Título: Diretor da PF acusa delegado de deslealdade
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/10/2008, Nacional, p. A14

Em depoimento ontem à CPI dos Grampos, o diretor da Divisão de Inteligência da Polícia Federal, delegado Daniel Lorenz de Azevedo, acusou de deslealdade o delegado Protógenes Queiroz, responsável pela Operação Satiagraha, que culminou com a prisão do banqueiro Daniel Dantas e do ex-prefeito Celso Pitta. Disse ainda que dezenas de agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) trabalharam de forma ¿clandestina¿ e ¿ilegal¿ na operação, além de argumentar que ¿há descompasso¿ entre os recursos de R$ 400 mil gastos na Satiagraha e o resultado do inquérito.

¿É muito dinheiro. Eu nunca tive tantos recursos para fazer uma operação. Quando tive, peguei quase uma tonelada de cocaína¿, disse Lorenz, ao lembrar que a operação Satiagraha expediu 56 mandados de busca e prisão, contra os 84 da Operação Navalha e os 70 da Operação Furacão. Lorenz, que era chefe imediato de Protógenes até o início de maio, afirmou ainda que investigações em andamento na Polícia Federal apontam para uma participação na Satiagraha superior a 56 agentes da Abin. Esse número de agentes foi divulgado pelo diretor da Agência, Paulo Maurício, em depoimento à comissão de inquérito há cerca de um mês.

Ao acusar Protógenes de deslealdade, Lorenz explicou que o delegado da PF nunca comentou sobre a participação de agentes da Abin na operação. ¿Isso nos deixa chocado pela forma desleal que nos tratou. Não precisava disso. Parece muito mais uma conspiração¿, lamentou. Ele garantiu que só tomou conhecimento da participação de agentes da Abin na Satiagraha quando encontrou Marcio Seltz, funcionário da agência que conhecia de uma viagem a trabalho. Lorenz pediu a Protógenes que Seltz não fosse mais ao prédio da PF.

Foi prontamente atendido, sem que Protógenes lhe dissesse sobre a participação de agentes da Abin na Operação.

Protógenes foi procurado por telefone para comentar a acusação de ter sido desleal, mas não foi encontrado.

Lorenz disse também que não conhecia Francisco Ambrósio, agente aposentado do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI). Confirmou que Ambrósio recebeu R$ 4,5 mil - em três parcelas - pagos por Protógenes com a verba secreta destinada à operação. No depoimento, Daniel Lorenz admitiu ser ¿muito difícil¿ descobrir quem fez o grampo que captou a conversa entre o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). ¿Mas espero que o delegado responsável por esse inquérito me contradiga¿, disse.

Lorenz fez questão de dizer ainda que as dez maletas da PF ¿têm profundas limitações técnicas¿ para fazer grampos.