Título: Bolsas desabam com medo de recessão
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/10/2008, Economia & Negócios, p. B1
O pânico voltou ontem aos mercados financeiros. Dessa vez, a justificativa não foi o medo de quebra de algum grande banco americano ou europeu, mas o risco de que a recessão nos países desenvolvidos seja mais profunda - e longa - do que se imaginava. Os principais índices da Bolsa de Nova York tiveram as maiores quedas, em termos porcentuais, desde o crash de 1987.
O mais tradicional, o Dow Jones, caiu 7,87%, enquanto o S&P 500, que reúne as maiores indústrias do país, desabou 9,03%. O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) seguiu a tendência e despencou 11,39%, maior perda desde 1998. Às 14h25, a bolsa foi obrigada a acionar o circuit breaker, mecanismo que interrompe o pregão quando a queda do indicador ultrapassa 10%. No ano, o Ibovespa perde 42,3%.
¿Hoje (ontem), sem dúvida, foi o pior dia da bolsa para a nossa geração de analistas¿, disse o estrategista de renda variável da Infinity Asset Management, George Sanders, que trabalha no mercado desde 1988. ¿A queda foi constante. Só ouvíamos ordens de venda.¿
O dólar subiu 3%, para R$ 2,165, embora o Banco Central (BC) tenha vendido mais de US$ 2 bilhões em dois tipos de operação - uma com compromisso de recompra e outra dos chamados swaps cambiais. As bolsas da Ásia abriram o dia de hoje com pesadas perdas. Tóquio caía 10% no início do pregão.
O número que detonou o pessimismo foi divulgado pelo Departamento de Comércio dos EUA. As vendas no varejo recuaram 1,2% em setembro, o pior desempenho em três anos. ¿Já se esperava uma retração da economia americana no segundo trimestre. Os dados do comércio fizeram com que a expectativa seja de um resultado ainda pior¿, explicou o economista-chefe do Banco WestLB, Roberto Padovani.
A maioria dos especialistas ainda mantém a avaliação de que o pior da crise de confiança no sistema financeiro ficou para trás. ¿Mas isso não significa que a volatilidade acabou¿, observou a economista-chefe do Banco Fibra, Maristela Ansanelli.
Para Lika Takahashi, estrategista da Fator Corretora, a crise terminará quando houver melhora no segmento onde começou: o mercado imobiliário dos EUA. ¿Os preços dos imóveis continuam caindo¿, disse.
Para Padovani, a crise passou para um segundo estágio, relacionado ao desempenho da economia real. ¿É uma fase mais `normal¿, na qual é um pouco mais fácil definir os preços dos ativos.¿
Ainda assim, começam a surgir informações nos EUA segundo as quais fundos hedge (os mais arriscados) podem enfrentar problemas. ¿Alguns fundos hedge pararam de operar¿, disse à agência Dow Jones um executivo de uma corretora. Em 1998, a quebra do Long Term Capital Management (LTCM) fez o banco central americano (Fed) convocar um pool de bancos para evitar uma contaminação do sistema.