Título: Para Lula, momento é de revolta dos bagrinhos
Autor: Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/10/2008, Economia, p. B3

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou uma metáfora para defender a união dos países menos desenvolvidos para que eles possam enfrentar a crise e sejam ouvidos nas propostas para mudar as regras do sistema financeiro internacional. ¿É como se fosse a revolta dos bagrinhos¿, disse o presidente, ao reafirmar sua convicção de que os países desenvolvidos foram incompetentes para evitar a crise. Lula citou uma expessão usada no PT em referência a um episódio de 1994, quando grupos minoritários do partido se uniram e passaram a comandar a legenda, substituindo a corrente Articulação, de tendência moderada, à qual pertencia o próprio Lula.

A tomada de medidas em conjunto, segundo o presidente, é fundamental, se os países emergentes não quiserem ¿ser arrastados¿ pela crise financeira internacional. Lula chegou a contar ao colega sul-africano, Kgalema Motlanthe, e ao primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, que bagre é um peixe brasileiro pequeno que, freqüentemente, é devorado por um grande, o jaú. Só que, de vez em quando, os bagrinhos se revoltam e se juntam para comer o jaú.

As afirmações do presidente foram feitas na reunião de cúpula do Fórum Ibas, que reúne Índia, Brasil e África do Sul. Para Lula, a união dos países em desenvolvimento pode facilitar a ¿construção de uma nova arquitetura internacional, cada vez mais necessária nesse momento de incertezas¿.

¿É inadmissível que venhamos a pagar pela irresponsabilidade de especuladores que transformaram o mundo em um gigantesco cassino, ao mesmo tempo em que nos prodigalizavam lições sobre como deveríamos governar nossos países¿, disse. ¿Corremos o risco de sermos vítimas de uma crise financeira gerada nos países ricos. Isso não é justo, porque nossos países reconstruíram suas economias com grande esforço¿ e, por isso, ¿vivem uma fase excepcional de expansão e de equilíbrio macroeconômico¿.

Em entrevista coletiva, Lula afirmou ainda esperar que, agora, ¿o FMI diga aos Estados Unidos que é preciso ter uma regulamentação do sistema financeiro e que os bancos centrais, reunidos na Basiléia (Suíça), determinem que é proibido que um banco de investimentos não tenha limites para alavancagem¿. E acrescentou que, ¿se os países ricos fizerem agora o que fizemos ontem, a economia voltará à normalidade¿.

Insistindo na tese de que as regras do sistema financeiro têm de ser mudadas, para que os bancos passem a ser mais fiscalizados, Lula afirmou que, dentro dessa nova filosofia, quando os bancos centrais tomarem uma decisão, ela terá de ser seguida por todos. Lula voltou a criticar o FMI, afirmando que ele ¿tem de mudar seu comportamento, porque o que fazia na década de 90, não vale mais¿.

Mais cedo, em discurso, Lula havia declarado que é preciso repensar o modelo mundial de produção e abastecimento de alimentos e passou a defender a conclusão da Rodada Doha. ¿É inadmissível que os subsídios agrícolas dos países ricos continuem a causar fome e destruir vocações agrícolas.¿