Título: Dinheiro não chega ao campo
Autor: PereiraRenée
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/10/2008, Economia, p. B4

A liberação adicional de R$ 5,5 bilhões para o crédito rural autorizada na terça-feira pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) ¿não resolve o problema dos produtores rurais, mas alivia a situação¿, disse o presidente da Comissão Nacional de Crédito Rural da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Carlos Sperotto. Segundo ele, os produtores rurais estão com dificuldade para obter financiamentos.

¿No ano passado, sobraram R$ 5 bilhões da exigibilidade (porcentual dos depósitos que as instituições financeiras têm de destinar ao setor rural), que os bancos não aplicaram. Não adianta anunciar números se o produtor está inviabilizado de obter estes recursos há anos¿, disse.

Para ele, a classificação das operações de crédito rural na faixa de ¿risco alto¿ dificulta os empréstimos. Ontem, o Banco Central tentou minimizar o problema, ao determinar que a análise de risco das operações rurais seja feita ¿caso a caso¿ pelas instituições financeiras, o que poderia facilitar a vida dos produtores. O BC também determinou que as dívidas rurais renegociadas a partir da Lei nº 11.775/08 não serão contabilizadas no cálculo do risco, o que permite que um número maior de produtores tenha acesso ao crédito.

Para o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, a iniciativa do BC resolve o problema dos agricultores no acesso ao crédito. Mesmo assim, uma equipe do ministério visitará as regiões produtoras para ¿sentir o clima¿. Ao classificar como ¿razoáveis¿ as medidas adotadas pelo governo para garantir crédito aos produtores rurais, Stephanes disse o governo está atento à situação dos exportadores. ¿O governo vai adotar medidas para suprir essas necessidades porque quer garantir as exportações.¿

Apesar do otimismo do ministro, analistas dizem que nem mesmo a liberação de R$ 5,5 bilhões vai aliviar o quadro de escassez de financiamento. O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, diz que o risco da atividade agrícola é um dos entraves para a liberação do dinheiro. ¿Com a crise, o risco da agricultura brasileira aumentou.¿ Ele alerta que a liberação anunciada ontem pode não chegar ao campo. ¿É uma possibilidade, mas não está garantido.¿

O consultor Fernando Pimentel, da Agrosecurity, lembra que até novembro, quando entra em vigor a medida para liberar os R$ 5,5 bilhões, a maior parte da safra já estará plantada. Ele diz que 80% dos recursos necessários para financiamento da safra já foram captados junto a fornecedores, financiadores privados e sistema de crédito rural, especialmente o Banco do Brasil.

Para Pimentel, a melhor alternativa para garantir a produção agrícola seria o governo liberar recursos para as tradings, empresas que tradicionalmente financiavam o plantio. ¿Seria muito mais eficaz¿, afirma. Ele explica que uma parte dos produtores rurais está inadimplente com os bancos, mas pagou em dia suas dívidas com as tradings.