Título: Lula ataca preconceitos contra Marta e pede votos para petista
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2008, Nacional, p. A4

A evangélicos, presidente diz que candidata foi vítima de calúnias e de uma campanha de `quase terrorismo¿

Vera Rosa

Com o argumento de que evangélicos não podem pagar na mesma moeda o preconceito do qual são vítimas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem uma defesa veemente de Marta Suplicy e pediu votos à petista a uma platéia formada por pastores, missionários e obreiros, convocados pelo PT para ouvir as propostas da candidata. Em tom duro, Lula disse estar convencido de que Marta foi a mulher que mais sofreu calúnias, infâmias e uma campanha de ¿quase terrorismo¿ por suas qualidades. Mais: afirmou que ninguém tem ¿procuração de Deus¿ para ser dono da verdade absoluta.

¿Vocês não podem retribuir o preconceito de que já foram vítimas¿, insistiu o presidente. ¿Quantos preconceitos já foram levantados contra os pastores e os evangélicos? Quem já foi mais vítima do que vocês?¿

A intervenção de Lula foi feita sob medida para conter o mal-estar ocorrido logo depois que Marta encerrou o discurso, aplaudida pela platéia após prometer levar de volta para a Avenida Paulista a Marcha para Jesus, transferida para o Campo de Marte pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM), seu adversário na disputa.

Tudo transcorria bem até que o obreiro Cícero Crispim interrompeu a cordialidade e, antes de Lula começar a falar, questionou a candidata sobre o processo movido por sua campanha contra o pastor Samuel Ferreira, da igreja Assembléia de Deus. O clima ficou tenso.

¿Se for para falar palavras de baixo calão contra a minha pessoa, eu processo mesmo¿, respondeu Marta, que chegou a se levantar, sem esconder a contrariedade. A referência de Crispim era a uma ação judicial comandada pelo PT para tirar do ar o programa de rádio do pastor, que fazia uma enquete na qual o locutor perguntava: ¿Marta ou a Bíblia?¿.

De microfone em punho, Lula comparou sua trajetória à de Marta, que enfrenta resistências entre os evangélicos por defender causas polêmicas, como a ampliação do aborto e a união civil entre homossexuais. ¿Nenhum de nós tem procuração de Deus para ser o dono da verdade absoluta¿, pregou. Depois, disse que estava ¿muito à vontade¿ para pedir votos a Marta naquele ambiente.

¿Eu, que já fui a maior vítima de preconceito nesse País, inclusive de muitos setores da Igreja Evangélica, acho que a companheira Marta é hoje a maior vítima, justamente pelas coisas boas que ela fez¿, observou Lula. Na lista das ¿coisas boas¿, citou o Centro Educacional Unificado (CEU) e o Bilhete Único.

Um dia depois de onze ministros desembarcarem em São Paulo para apoiar Marta - em situação delicada desde Kassab abriu vantagem de 17 pontos, segundo o Datafolha -, Lula também socorreu a petista. Antes de conversar com os evangélicos, gravou mensagem para ela que será exibida amanhã, na reestréia do horário eleitoral, destacando sua competência para administrar a cidade.

Ao falar para a platéia - onde estava Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula -, Marta disse que, caso seja eleita, os evangélicos serão seus parceiros. Lembrou que isentou os templos do pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e afirmou que também pensou nos evangélicos ao propor a criação de um Conselho da Cidade. ¿Não vejo nenhum empecilho, a não ser o preconceito, para que a Marcha para Jesus não seja na Avenida Paulista¿, avisou ela. Marta encerrou seu discurso em tom religioso. ¿Louvado seja Deus¿, exclamou.

Ao defender a candidata do PT das críticas, Lula lembrou que também levou anos para que os pobres votassem nele. ¿Era o que mais me doía¿, contou, insinuando que Marta - filha da elite - também sofre preconceito por parte da classe alta. ¿Houve um tempo em que vocês, evangélicos, votavam em determinados candidatos e depois eles tinham vergonha de se encontrar com vocês¿, afirmou. ¿Lembram disso?¿ Sob palmas, ele foi além: ¿Nós temos que aprender que a convivência democrática, o respeito às nossas crenças, aos nossos hábitos e costumes, não podem ser levantados contra quem pensa diferente de nós¿. Antes de partir, o reverendo Dinardi agradeceu Lula. Disse que ele ¿abençoou o povo de Deus com os programas sociais¿, que fortaleceram a Igreja e engordaram o dízimo.