Título: Equador evita dar caráter diplomático à crise com Brasil
Autor: Charleaux, João Paulo
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2008, Internacional, p. A23

Após retaliação brasileira, Quito diz que questão é apenas comercial

João Paulo Charleaux

O Equador respondeu ontem à retaliação anunciada pelo governo brasileiro, tentando manter o impasse entre os dois países restrito apenas à agenda comercial. ¿O problema é com as empresas, não é com o governo do Brasil¿, disse o ministro da Coordenação de Áreas Estratégicas do Equador, Galo Borja. ¿Estamos nos esforçando para trazer à luz toda a série de irregularidades relacionadas com esa empresa¿, disse, em referência à Odebrecht.

A construtora brasileira é acusada de corrupção, teve embargadas as obras que vinha realizando na Usina Hidrelétrica de San Francisco e teve dois de seus executivos impedidos de deixar o país.

Além da construtora, o governo equatoriano também investiu contra a Petrobrás, propondo a súbita mudança dos contratos de exploração de petróleo no país. O Equador também se nega a pagar um empréstimo do BNDES de US$ 243 milhões.

Em resposta, o governo brasileiro anunciou retaliações na quinta-feira, agregando elementos políticos e diplomáticos ao impasse. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ordenou a suspensão de uma viagem que o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, faria ao Equador e, na prática, congelou o início de obras viárias de integração previstas em acordos bilaterais .

No Senado, o vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores, Eduardo Azeredo (PSDB), disse que o próprio Brasil foi culpado pela investida equatoriana contra as empresas, ressaltando que o presidente Lula deveria assumir pessoalmente a negociação.

¿O governo foi tímido na área internacional e isso pode ter influenciado outros países a se sentirem à vontade para enfrentar o Brasil¿, disse Azeredo. ¿Depois da invasão da Petrobrás na Bolívia sem uma resposta à altura do governo brasileiro, surge essa demanda do Equador. A reação de Lula é correta, mas insuficiente. Ele deve entrar nisso pessoalmente.¿

O consultor em Relações Internacionais Roberto Teixeira da Costa concorda com Azeredo. Para ele, ¿o que aconteceu no passado entre o Brasil, a Venezuela e Bolívia deu a Correa a sensação de que os ventos estavam favoráveis, mas ele cometeu um grande equívoco. Correa chegou tarde, quando o chope já estava quente¿, disse referindo-se à resposta brasileira.

Pesquisadores das Relações Internacionais na região, como o professor da Unesp, Tullo Vigevane, vêem nas retaliações anunciadas pela diplomacia brasileira o resultado de disputas entre correntes internas do próprio governo Lula.

¿Há discussões entre o Ministério das Relações Exteriores, o Ministério de Indústria e Comércio e BNDES sobre qual deve ser a atitude brasileira. Eu acredito que a reação do governo tenha resultado desse debate interno.¿