Título: Mantega critica políticas tradicionais contra a crise
Autor: Kuntz, Rolf
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2008, Economia, p. B5

Ministro fala em medidas novas para vencer a turbulência global, mas não adianta detalhes

Somente com medidas novas e coordenação de governos será possível vencer a crise, disse ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, no Fundo Monetário Internacional (FMI) e na reunião do G-20. As autoridades do mundo rico, segundo ele, insistem na aplicação de políticas tradicionais, insuficientes para resolver a turbulência. Ele não quis adiantar, no entanto, detalhes de suas propostas nem da orientação recebida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, ex-ministro da Economia da França, também tem defendido a adoção de políticas novas e a ação conjunta dos governos, mas não tem feito segredo de suas idéias. O ponto central de sua proposta é a recapitalização dos bancos, indispensável, segundo ele, para a restauração da confiança no mercado financeiro. Os governos americano e britânico prometeram nesta semana medidas com esse objetivo, estatizando parcialmente instituições financeiras, se isso for necessário.

O ministro brasileiro, presidente do G-20 em 2008, convocou o encontro por sugestão do secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, para quem essa será mais uma reunião paralela à Assembléia Anual do FMI e do Banco Mundial. Ele se reuniu ontem, na sede do Tesouro, com seus colegas do G-7.

Analistas de Wall Street, no fim da tarde, atribuíram a breve reação da bolsa a expectativas favoráveis em relação ao G-7. Em Nova York, o índice Dow Jones despencou na maior parte do dia, recuperou-se após as 15 horas e voltou a cair.

Segundo Mantega, as medidas anunciadas nos últimos dias pelo governo americano ainda não surtiram efeito porque não entraram em vigor. O mercado de capitais, avaliou, atingirá o fundo do poço nas próximas semanas. Mas ele procurou exibir tranqüilidade. Assegurou não tem perdido o sono.

O diretor do FMI para o Hemisfério Ocidental, Anoop Singh, também mostrou otimismo com o Brasil. Reafirmou a expectativa de crescimento de 3,5% em 2009, indicada no Panorama Econômico Mundial divulgado esta semana, e elogiou a disposição do governo de elevar de 3,8% para 4,3% do Produto Interno Bruto (PIB) a meta de superávit primário das contas públicas. ¿Não vemos na região nenhuma complacência em relação à crise¿, disse o economista.

Segundo Anoop Singh, o Brasil poderá financiar sem dificuldade o déficit na conta corrente do balanço de pagamentos, estimado em 2% do PIB em 2009. O País continuará a ser um pólo de atração do investimento estrangeiro direto.

O Brasil e outros países latino-americanos deverão perder receita por causa da redução de preços dos produtos básicos, normal em épocas de retração internacional. Essas exportações são muito importantes para a receita de impostos de alguns governos, que enfrentarão dificuldades.