Título: Países ricos garantem dinheiro público para capitalizar bancos
Autor: Kuntz, Rolf
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2008, Economia, p. B5

Representantes do G-7 anunciam medidas para recuperar a confiança dos mercados

Rolf Kuntz

Os governos das sete maiores economias desenvolvidas prometeram usar dinheiro público, se necessário, para recapitalizar bancos e outras instituições financeiras enfraquecidas pela crise. O anúncio foi feito às 18 horas de ontem, depois de uma reunião de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do Grupo dos 7 (G-7), no Departamento do Tesouro dos Estados Unidos.

Os governos dos Estados Unidos e do Reino Unido já haviam anunciado a disposição de comprar ações de bancos privados para ajudar sua recuperação. A recapitalização dos bancos é essencial para a restauração da confiança nos mercados, havia dito, no dia anterior, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn.

Os ministros do G-7 resumiram seus novos compromissos num comunicado com cinco itens: 1) usar todos os meios disponíveis para apoiar sistemicamente as instituições financeiras importantes e impedir sua falência; 2) fazer o necessário para descongelar os mercados monetários e de crédito e garantir amplo acesso dos bancos e outras instituições aos fundos necessários; 3) garantir que os bancos e outros intermediários importantes, na medida do possível, possam levantar capital de fontes públicas e privadas, em volume suficiente para restabelecer a confiança e para continuar emprestando a empresas e famílias; 4) oferecer garantias aos depositantes; 5) agir para restabelecer o mercado secundário de hipotecas e outros ativos securitizados.

Os ministros comprometeram-se a tomar os cuidados necessários para proteger os contribuintes e evitar danos a outros países. Anunciaram, também, a disposição de usar os instrumentos macroeconômicos adequados, de apoiar o socorro do FMI aos países abalados pela crise e de trabalhar pela reforma do sistema financeiro.

As decisões dos ministros coincidem com as principais sugestões apresentadas nesta semana por Strauss-Kahn e outros altos funcionários do FMI. Até ontem, a maioria dos governos da União Européia rejeitava intervenções mais amplas que aquelas empreendidas pelos bancos centrais.

¿A turbulência é um evento global¿, disse Henry Paulson, depois da reunião, ao justificar as decisões. A situação, segundo ele, impõe medidas cooperativas a autoridades financeiras e monetárias de todo o mundo.

O secretário também disse esperar que os ministros do G-20 endossem as decisões dos sete ministros das maiores economias capitalistas. O G-20 inclui os membros do G-7 e um grupo de grandes economias emergentes. Seu atual presidente, o ministro Guido Mantega, convocou para hoje à tarde uma reunião do grupo na sede do FMI, por sugestão de Paulson.

Segundo o secretário americano, as compras de ações de entidades financeiras pelo governo dos Estados Unidos não deverão dar direito a voto. Na reunião do G-7, segundo explicou, não houve menção e nenhuma empresa em particular.

No momento, disse Paulson, o foco principal das ações deve ser o fornecimento de liquidez aos mercados. Segundo ele, as medidas anunciadas pelos ministros não produzirão efeito imediato e ainda haverá instabilidade por algum tempo.

REFORMAS

As medidas combinadas, comentou o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, atendem aos desafios do momento. Ele defendeu a convergência dos padrões contábeis nos Estados Unidos e na Europa e assegurou que o BCE continuará a trabalhar pela estabilidade de preços, ao mesmo tempo em que se esforçará para fornecer liquidez ao mercado.

Além das autoridades americanas, compõem o G-7 os ministros de Finanças e presidentes de Bancos Centrais de Canadá, Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Itália.

A decisão do G-7 consagra as políticas propostas pelos principais funcionários do Fundo para a solução da crise financeira. Na reunião de hoje do Comitê Interino do FMI, formado por 24 ministros que representam os interesses dos diferentes grupos e regiões, poderá haver alguma retórica, mas o debate, agora, deve ser deslocado para importantes questões de detalhe: a supervisão dos mercados, o papel da instituição na reforma do sistema financeiro internacional e os mecanismos de apoio aos países afetados pela crise.