Título: Países da zona do euro discutem plano amanhã
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2008, Economia, p. B6

Reunião de emergência convocada para este domingo em Paris vai tentar superar as divergências no bloco europeu em relação à crise

Jamil Chade

Depois de uma das piores semanas de sua história financeira, a Europa convoca uma cúpula de emergência dos 15 países que adotam o euro para tentar fechar um plano conjunto de resposta aos mercados. A reunião ocorrerá amanhã em Paris com a presença dos chefes de Estado e de governo. A crise financeira reabriu feridas entre líderes europeus e demonstrou que o bloco, apesar de usar uma moeda única, sofre para fechar uma estratégia contra a crise.

Ontem, depois de dias atacando a possibilidade de um pacote comum, o governo alemão deu os primeiros sinais de que algo precisava ser feito e poderia aceitar algum tipo de pacote.

O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, apelou para que os demais países adotem um plano de resgate parecido com o que anunciou nesta semana. Enquanto isso, nos bastidores, o presidente francês Nicolas Sarkozy trabalha no relançamento da idéia de um fundo europeu para salvar o sistema. O pacote pode ser debatido amanhã, na cúpula de emergência.

¿O que vemos é que a Europa foi definitivamente afetada pela crise que começou nos Estados Unidos. Mas agora é ela quem está realimentando essa crise¿, afirmou ao Estado o economista Joseph Stiglitz. ¿Sabemos da dificuldade na gestão de decisões na Europa. Mas isso precisa ser superado.¿

¿Os chefes de Estado que contam com o euro, assim como os chefes da Comissão Européia e do Banco Central Europeu se reunirão no Palácio Eliseu¿, diz um comunicado da presidência francesa. ¿O objetivo é definir uma ação conjunta dos países da zona do euro e do BCE sobre a atual crise financeira.¿

Durante a semana, cada governo adotou uma estratégia diferente, e apenas as medidas de garantias de depósitos foram tomadas de forma coordenada. Mas as perdas de mais de 22% nas bolsas européias durante a semana mostraram que o continente pagou caro pela falta de unidade. O principal obstáculo é a Alemanha, a maior economia do bloco, que diz não estar disposta a pagar pelo erro de bancos estrangeiros.

O governo da França chegou a propor a criação de um fundo europeu de cerca de 300 bilhões. Mas não teve apoio de Berlim. Na segunda-feira, foi a vez de o Reino Unido anunciar um pacote nacional de US$ 875 bilhões. Mas recomendou que os demais países seguissem o mesmo caminho.

A decisão da convocação da cúpula foi tomada depois que o primeiro-ministro da Espanha, José Luis Rodriguez Zapatero, pediu ontem que a França reorganizasse uma estratégia européia antes que os mercados reabrissem na segunda-feira. Uma reunião do bloco já estava agendada para o dia 15. Mas Madri acreditava que o encontro tenha de ser antes.

Na primeira reunião de cúpula da Europa há uma semana, em Paris, Sarkozy reuniu apenas Itália, Alemanha e Reino Unido e deixou vários governos irritados. Sarkozy quer evitar de todas as formas outra cúpula que apenas deixará exposta a divisão européia.

Ontem o governo alemão reconheceu que a estratégia de cada um agir por si não funcionaria. A imprensa alemã chegou a noticiar que Berlim estava prestes a anunciar um plano como o do Reino Unido, que injetou bilhões no mercado. Mas o governo alemão deu a entender que o plano ainda não estava pronto e ¿todas as opções¿ serão discutidas no domingo.

Para o ministro das Finanças da Alemanha, Peer Steinbrueck, a estratégia de seu governo de agir em casos isolados não funciona mais. O temor era de que, como se trata da maior economia européia, a Alemanha acabaria pagando a maior parte da conta. ¿Estou convencido de que não vamos avançar assim. Temos de evitar comportamentos discricionários e tentar achar uma estratégia que funcione para todo o setor.¿

A idéia de Steinbrueck é a criação de uma ¿coordenação internacional¿ que mantenha espaço para as soluções nacionais. ¿Todos os países são chamados a adotar medidas de estabilização¿, disse o ministro alemão.

Ontem, o primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, voltou a pedir uma solução global para a crise e apelou para que outros países seguissem seu modelo. Ele já enviou cartas aos demais países do bloco e ontem reforçou seu pedido.

Além da injeção de recursos, Brown quer regras de transparência que sejam válidas para todo o bloco e critérios de conduta para a gestão de riscos dos bancos. Por fim, um novo sistema de supervisão deverá ser introduzido para lidar com os fluxos financeiros. Para ele, os mecanismos nacionais não dão conta do volume. ¿Velhas soluções do passado não servirão para os desafios. Temos de deixar dogmas para trás e abraçar novas soluções.¿

Para economistas na Europa, a iniciativa de Brown é uma revisão completa do papel do Estado na economia e ainda reverte 20 anos de um modelo. Para o britânico, essa nova estrutura deve ser debatida numa reunião de emergência dos líderes do G-7 na próxima semana. O mercado americano estará fechado na segunda-feira, e muitos acreditam que essa possa ser a oportunidade.