Título: Pode faltar dinheiro para pólo petroquímico
Autor: Tereza, Irany
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2008, Economia, p. B9
Petrobrás terá dificuldade em custear obra do Comperj
Irany Tereza e Nicola Pamplona
O Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em fase de terraplenagem, deve ser o primeiro grande projeto da Petrobrás a sentir os efeitos da crise global. Segundo fontes próximas ao empreendimento, a estatal terá dificuldades em conseguir parceiros capitalizados para dividir os US$ 8,4 bilhões projetados. Antes da crise internacional, a Petrobrás se preparava para rever para cima o investimento, por causa da elevação dos custos de equipamentos.
Além disso, um dos executivos que acompanham o projeto diz que o modelo original do Comperj previa um aumento expressivo do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, em torno de 5%, e uma demanda interna superaquecida, situação que, comenta, nem de longe vai se concretizar. ¿Prevê-se ainda um desaquecimento de demanda no mundo e sequer faz sentido a possibilidade de um empreendimento voltado à exportação.¿
O planejamento estratégico da Petrobrás - que já estava em processo de revisão antes do agravamento da crise, e agora não tem data prevista para ser concluído - projetava, para o período 2008-2010, uma alta do PIB anual de 4,3% no mundo. Para a América Latina a previsão era de crescimento de 3,9% e, para o Brasil, de 4%. Também contava com uma taxa média de câmbio de R$ 2,18.
O projeto do Comperj é isoladamente o investimento mais vultoso da Petrobrás atualmente em curso e representa quase todo o PIB da região leste fluminense, onde o complexo será instalado, calculado em R$ 20 bilhões. Elaborado com o objetivo de refinar o petróleo pesado do campo de Marlim, na Bacia de Campos, hoje exportado por falta de capacidade de refino no Brasil, o projeto tem início de operações marcado para 2012, em fase de testes.
No entanto, empresários e analistas do setor petroquímico ouvidos pelo Estado descartam a possibilidade de o projeto - que sequer tem sua modelagem acionária desenhada - seguir o cronograma original. Eles alegam, principalmente, a dificuldade de captação de recursos para a obra. ¿Acredito que vá haver uma mudança de prazos, um deslocamento de dois ou três anos nas projeções para o fim das obras¿, diz outro executivo ligado ao setor petroquímico.
¿Na atual conjuntura, é um projeto que pode ser postergado¿, concorda o analista de petróleo da corretora Ágora, Luis Otávio Broad, lembrando que a estatal já vinha encontrando dificuldades para fechar parcerias para o investimento antes da crise. Além disso, acrescenta, ¿a empresa tem outras prioridades neste momento¿, como o desenvolvimento das reservas gigantes do pré-sal, como Tupi e Júpiter.
Mesma visão tem o consultor Armando Guedes, ex-presidente da Petrobrás e da Suzano, primeiro a se manifestar publicamente sobre os riscos nos investimentos em refino e petroquímica da estatal. ¿A questão agora é avaliar: é prioritário?¿, questionou, em entrevista concedida recentemente. Ele destacou que, além do Comperj, a Petrobrás prevê US$ 30 bilhões nas duas refinarias Premium projetadas para Ceará e Maranhão.
¿Acho que deve haver maior racionalidade em direcionar os investimentos para onde for prioritário¿, avaliou Guedes, citando também as reservas do pré-sal. ¿A Petrobrás tem parceiros no pré-sal. Mas, para os próprios sócios, buscar dinheiro vai ser muito difícil¿, argumentou. Procurada pelo Estado, a Petrobrás não se manifestou sobre o assunto.
Na quarta-feira, o diretor financeiro da Petrobrás, Almir Barbassa, descartou mudanças nos investimentos da companhia, incluindo o Comperj, por causa da insegurança financeira atual.¿Isso está fora de cogitação.¿