Título: Mais uma vez, Kassab e Marta preferem ataques a propostas
Autor: Scarance, Guilherme
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2008, Nacional, p. A6

Em debate na TV Record, propaganda sobre vida pessoal do prefeito e briga entre polícias serviram de munição

Guilherme Scarance

O confronto entre policiais civis e militares, de um lado, e a polêmica propaganda de Marta Suplicy (PT) que sondou a vida pessoal do prefeito Gilberto Kassab (DEM), de outro, serviram de munição para os finalistas na corrida eleitoral paulistana, ontem à noite, na TV Record. Em um debate pontuado por mais ataques que propostas, característica que já despontava nos quatro embates anteriores na TV, a criação de taxas também alimentou o tiroteio - Kassab duvidou da promessa de Marta de não criar impostos. Já a petista assegurou que ele está prestes a instituir o pedágio urbano.

Enquete: Quem se saiu melhor no debate?

Ouça análise de cientista político sobre a reta final

Especial: Perfil de Marta Suplicy e Gilberto Kassab

Na primeira pergunta, sobre a crise entre as polícias Civil e Militar, que culminou em enfrentamento, na quinta-feira, os dois já divergiram. O prefeito rebateu declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que o governador José Serra (PSDB) lhe devia desculpas por ter acusado o PT. ¿Lula fez essa manifestação no ambiente partidário. Como presidente, se quiser pormenores, vai ligar para o governador, ponderar¿, disse ele. ¿Lula tem espírito público, pelo menos deveria ter.¿ Marta voltou a frisar a sua ¿indignação¿ com Serra: ¿Achei que foi uma manifestação eleitoral¿.

Na pergunta seguinte, sobre a propaganda que destacou o fato de Kassab não ser casado nem ter filhos, ela se disse ¿espantada¿ com a repercussão. ¿Eu sou, talvez, a pessoa neste Brasil que mais defendeu direitos humanos, minorias. Principalmente aos grupos gays, homossexuais, eu agradeço ao apoio.¿ Kassab criticou o ¿maquiavelismo¿ e as ¿perguntas maliciosas¿. ¿Sou solteiro, sou feliz, sou engenheiro, sou economista¿, completou.

Na folha em que fazia anotações ao longo do programa, a petista escreveu ao lado das regras: ¿Quando ele perguntar, na resposta falar o que vou fazer. Na tréplica, ir forte.¿ E o tom realmente subiu várias vezes.

Acusaram-se de deixar a cidade ¿falida¿ e ¿arrasada¿. Digladiaram-se sobre o ¿cheque-despejo¿. Ela reiterou que Kassab foi e ainda é aliado do ex-prefeito Celso Pitta. O atual prefeito lembrou o episódio do mensalão e rememorou os seus personagens. Ela, várias vezes, admitiu equívocos: ¿Errei (ao criar taxas), pelo desculpas¿. Ele também: ¿Tenho o cuidado de mostrar o que deixamos de fazer.¿

TRIBUTOS

Do começou ao fim, Kassab bateu na tecla dos tributos. ¿Como você criou tantas taxas e ainda conseguiu quebrar São Paulo?¿, indagou. Além de listar os efetivamente criados, insinuou que ela pretendia instituir 11, ¿até taxa de coxinha¿. ¿Sua obsessão com taxas era muito grande. Você vai ter de explicar por todo o resto da vida.¿ E parodiou a estratégia da adversária de dizer que há dois Kassabs, o da propaganda e o real. ¿Em qual Marta vamos acreditar: na que fala que não vai criar taxas ou na que criava?¿

No quarto bloco, Marta voltou a bater forte. Perguntou a Kassab se ele era a favor do pedágio urbano. Ante a resposta de que era contra, citou dois projetos - um que entrega o controle das marginais ao governo do Estado e outro do vereador Carlos Apolinário (DEM) - que instituiriam a cobrança. Ele rebateu de novo: ¿Marta, eu não comando os vereadores¿.

Em meio à troca de ataques, a candidata do PT provocou apreensão quando sua fala ficou pastosa durante o quarto bloco. Quem acompanhava o debate da platéia, porém, viu a ex-prefeita encerrar sua fala, tomar um copo d¿água e voltar logo à normalidade.

No calor do encontro, ambos cometeram gafes. Marta deslizou: ¿Criei tudo isso tendo uma política de direita, austera, criativa¿. Já o candidato do DEM bateu na bancada, fazendo referência indireta a um de seus jingles (Toc, toc, toc/Bate na madeira/Marta outra vez/Nem de brincadeira). O som mal foi captado pelos microfones. Pretendendo afirmar o contrário, disse que, na gestão do PT, ¿não havia posto vendendo gasolina fajuta¿.

PONTOS ALTOS

1. Kassab se mostra mais tranqüilo, fala devagar, transmitindo maior autocontrole do que Marta, que fala rápido e revela ansiedade

2. Marta ironiza Kassab porque, para mencionar suas principais obras, precisou recorrer a um texto escrito

3. Kassab tem assessoria mais ágil, que lhe fornece na hora dados sobre as perguntas e lhe permite dar respostas mais detalhadas

4. Marta lê ao vivo um projeto sobre cobrança de pedágio urbano, obrigando Kassab a condenar, de público, a iniciativa de seu líder na Câmara, Carlos Apolinário

PONTOS BAIXOS

1. As claques dos dois candidatos interromperam o debate várias vezes, com vaias e aplausos, ignorando as regras

2. Marta afirma que foi ela quem criou os Cepacs - instrumento surgido na gestão de Paulo Maluf

3. Kassab usa humor de gosto duvidoso: ao falar sobre remédios, bate na madeira para que a rival não se eleja

4. Marta se atrapalha com as palavras: ¿Tenho uma política de direita, criativa...¿

5. Kassab, descrevendo sua gestão: ¿Não tinha posto de gasolina fajuto, agora tem...¿ E se recupera: ¿Fechado¿

EU VOTO EM...

KASSAB Gilberto Almeida Presidente do SindimotoSP

¿Ele abriu as portas para o sindicato. Recuou na proibição da circulação de motos nas marginais e aceitou prolongar bolsões¿

MARTA Denise Motta Dau Secretária nacional da CUT

¿Marta governou para a maioria, investindo nas políticas públicas de transporte, educação e cultura¿