Título: Choque entre polícias leva Lula a confrontar Serra em ato de Marta
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2008, Nacional, p. A4

A uma semana do segundo turno, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu apimentar a guerra eleitoral em São Paulo. Ao subir ontem no palanque da candidata do PT, Marta Suplicy, Lula disse que o governador José Serra (PSDB) deveria pedir ¿desculpas¿ por ter acusado o PT de insuflar um protesto de policiais civis, na quinta-feira, para obter dividendos políticos. Não foi só: ele aproveitou a manifestação para defender Marta no episódio do polêmico comercial sobre a vida privada do prefeito Gilberto Kassab (DEM) e, irônico, afirmou que vai instituir o Dia da Hipocrisia.

¿O governador Serra não tinha o direito de, me conhecendo como conhece e mantendo as relações que mantém comigo, acusar o PT nesse caso da Polícia Civil¿, disse Lula. ¿Espero que em algum momento o governador de São Paulo peça desculpas por essa heresia.¿

Diante de cerca de 1,7 mil representantes de movimentos sociais, sindicalistas e até policiais civis, o presidente destacou que Serra ¿sabe muito bem¿ que os dirigentes das centrais só queriam apresentar reivindicações da categoria. ¿Quem não quer ser cobrado pelo povo que não seja governo.¿

O Estado procurou a assessoria do governador, que não comentou as declarações. Na quinta-feira, Serra acusou o PT, a CUT e o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT), de incentivar o conflito entre policiais civis e militares, perto do Palácio dos Bandeirantes, na tentativa de influenciar a votação do dia 26.

Sem esconder a contrariedade, Lula fez questão de associar Serra a Kassab, que lidera a corrida eleitoral. Disse que tanto o tucano quanto o candidato à reeleição recebem recursos do governo federal sem discriminação partidária. Durante o ato, o adversário de Marta foi chamado várias vezes de ¿laranja¿ e ¿clone¿ de Serra por petistas que se revezaram no microfone.

O presidente da Força Sindical avisou que o objetivo dos policiais, agora, é conversar com o ministro da Justiça, Tarso Genro.¿Queremos despolitizar a greve¿, garantiu. Paulinho, como é conhecido, foi convencido pelo chefe-de-gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, a não entregar ali um manifesto a Lula. ¿Isso seria fazer o que Serra quer¿, argumentou.

PROPAGANDA

Pela primeira vez desde a exibição da polêmica propaganda do PT que perguntava se Kassab era casado e tinha filhos, Lula criticou as interpretações sobre a peça de marketing. Para o presidente, Marta é vítima de preconceito ¿raivoso e rançoso¿. ¿Tentaram passar a idéia de que essa mulher tem preconceito contra o homossexualismo. Quando todos nós tínhamos preconceito, ela já estava na TV Mulher defendendo as minorias desse País¿, insistiu, numa referência ao programa comandado por Marta nos anos 80.

Em tom exaltado, Lula conclamou a platéia a ¿quebrar os preconceitos¿ contra a petista recorrendo à sua própria trajetória. Apesar de não mencionar textualmente a propaganda que o PT foi obrigado a retirar do ar, o presidente não deixou dúvidas sobre o que falava. ¿Ah, meu Deus do céu, se a imprensa me defendesse cada vez que fazem uma pergunta difamatória...¿, disse. ¿Ah, se ela me defendesse cada vez que alguém perguntava: `Ô, Lula, sabes falar inglês? Então não pode governar o Brasil. Ô Lula, és casado, tens filho?¿¿, emendou.

Depois de afirmar que um jornalista teve a ¿desfaçatez¿ de perguntar a Marta num debate, anos atrás, se ela defendia a bigamia, Lula disse não se conformar com esse tipo de atitude. ¿Ainda vou criar o Dia da Hipocrisia¿, ironizou. Kassab não quis comentar as declarações.

Andando de um lado para o outro no palco transformado em palanque, Lula deu a receita para a reta final da campanha: ¿Temos de fazer que nem as Casas Bahia, bater palma e vender um produto. Só que aí não é um produto qualquer. É um produto ideológico, político, melhor que o do adversário.¿

Em seu discurso, Marta caprichou nas estocadas ao rival. Empregou, porém, o pronome ¿eles¿, numa alusão a Kassab e Serra. ¿Eles fazem maquiagem (das obras) porque não querem perder a última trincheira, que é São Paulo¿, bradou a candidata. ¿Aqui vai ser o grande embate.¿ Foi a última participação de Lula na campanha de Marta antes da eleição.