Título: Na reta final, Fogaça e Maria do Rosário elevam ataques
Autor: Ogliari, Elder
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2008, Nacional, p. A16

Os candidatos à Prefeitura de Porto Alegre emitiram os primeiros sinais de que poderão elevar a intensidade das insinuações sobre o passado e os vínculos políticos de cada um na semana decisiva da campanha. Formalmente, José Fogaça (PMDB) e Maria do Rosário (PT) mantêm o discurso de apresentar e comparar propostas para a cidade, mas na propaganda de rádio e televisão a troca de acusações aumentou nos últimos dias.

O pano de fundo é a estratégia das duas campanhas de comparar governos. ¿A população está percebendo as diferenças entre os 16 anos das administrações anteriores (do PT, que comandou a cidade de 1989 a 2004) e os três anos e meio de nossa administração¿, afirma Fogaça, que se orgulha de ter ajustado as finanças para depois retomar projetos. ¿Na nossa opinião há um caos na saúde pública, insegurança e queda na qualidade dos serviços, mas o prefeito quer discutir o passado e não a sua administração e a solução para os problemas que temos agora¿, retruca o coordenador de campanha do PT, Cícero Balestro.

A campanha petista afirma que Fogaça não fez obras novas, mas apenas tocou as deixadas por seus antecessores. Por conta disso, criou uma peça publicitária na qual exibe um cronômetro, desafiando o espectador a lembrar três projetos do prefeito em 15 segundos, depois dois em 10 e um em cinco, encerrando sem resposta.

A campanha de Fogaça respondeu com um recurso semelhante, no qual dá 16 segundos para o espectador dizer por que o PT não iniciou o projeto do metrô ou a educação de turno integral, concluindo que o partido teve 16 anos para fazer o que cobra dos outros.

ADJETIVOS

No debate de quinta-feira à noite, na TV Bandeirantes, os dois candidatos saíram do tom comedido que vinham mantendo e chegaram aos adjetivos. Maria do Rosário qualificou Fogaça de ¿subserviente¿ por ¿beijar a mão¿ da governadora Yeda Crusius (PSDB).

O prefeito acusou seus antecessores de ¿irresponsabilidade e incompetência¿ pelas contas atrasadas deixadas com a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE).

O PT tem lembrado que o número de matrículas na rede escolar municipal caiu na gestão Fogaça que, por sua vez, alega que antes os dados não excluíam os alunos que desistiam de freqüentar as aulas para manter recursos do governo federal. Em resposta, Maria do Rosário afirma que caberia à prefeitura identificar os ausentes para procurar levá-los de volta à escola.

¿O tom do programa dele (Fogaça) tem sido ofensivo¿, afirma Maria do Rosário. A campanha de Fogaça também considera agressivas matérias exibidas no programa de Maria do Rosário, como as que mostram pessoas na fila de postos de saúde, sob chuva, ou postes caídos na rua. ¿Os fatos que eles trazem compõem a realidade de qualquer município médio ou grande¿, minimiza o coordenador de campanha do prefeito, Clóvis Magalhães.

Para o cientista político Paulo Moura, da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), é normal que as duas candidaturas elevem o tom na reta final. Mas há diferenças em relação à campanha de 2004. Naquele ano, Fogaça deixou que os outros candidatos criticassem o governo da época e não se envolveu em polêmicas. Ao passar para o segundo turno, tornou-se o favorito, tanto pela adesão de quase todos os outros partidos quanto pelo sentimento de decepção que havia com o PT e manteve a linha moderada até a vitória.

Desta vez, avalia Moura, é diferente. Como prefeito, Fogaça tem a máquina, mas também virou alvo. ¿E o antipetismo está menos exacerbado.¿