Título: Próximo líder terá mais problemas e menos dinheiro
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2008, Internacional, p. A19

Seja quem for o próximo presidente dos EUA, uma coisa é certa: ele começa seu mandato com uma margem de manobra limitada pela crise econômica. ¿Nem Barack Obama nem John McCain têm um plano claro de como lidar com a crise econômica e a crescente dívida pública¿, diz George Edwards, professor de Ciência Política da Universidade Texas A&M, especializado no estudo da presidência. ¿Os dois relutam em dizer quais propostas precisarão cortar de suas plataformas e têm previsões excessivamente otimistas em seus planos tributários.¿

Mas, para alguns especialistas, o democrata Obama tem o tipo de temperamento mais adequado para lidar com um país em recessão e com a reputação arranhada no mundo depois de Guantánamo e as torturas em Abu Ghraib. ¿No momento, Obama está mais bem equipado para lidar com esses desafios, porque tem apoio político - é muito provável que o Congresso seja democrata por ampla maioria¿, diz Bruce Buchanan, professor da Universidade do Texas em Austin e especialista em história presidencial. ¿E Obama também tem o tipo de temperamento mais adequado para este momento crítico - ele é sensato, equilibrado, calmo.¿

McCain, em contrapartida, traria experiência em política externa e em colaboração com os democratas. ¿Ele teria a vantagem de ter realmente trabalhado em parceria com os democratas, o que seria essencial em um governo com Congresso democrata.¿

Em relação à guerra do Iraque, os dois têm visões diametralmente opostas. Obama quer retirar as tropas o mais rápido possível. McCain acha que essa estratégia vai levar o caos à região.

Obama ajudaria a remendar a imagem dos EUA no exterior, pelo menos pelo simbolismo de sua eleição. Mas algumas de suas posições - aumento de tropas da Otan no Afeganistão, por exemplo - colocam-no em rota de colisão com os europeus, que querem retirada rápida de soldados do país. McCain, apesar de ter posição mais agressiva em geral, pretende fechar Guantánamo e é contra a tortura, da mesma maneira que Obama. Os dois prometem participar em esforços multilaterais para reduzir o aquecimento global. Esses três pontos - fechamento de Guantánamo, repúdio à tortura e ações concretas contra aquecimento global - já seriam grandes avanços para a imagem dos EUA. Mas Obama promete uma abordagem mais multilateralista, enquanto McCain ameaça seguir os passos unilateralistas de Bush.

No campo de política externa bilateral, a fila de países-problema para os EUA é longa. Depois de o governo Bush ter adotado uma estratégia de isolar os inimigos, o próximo presidente provavelmente terá de engajar-se numa intensiva campanha diplomática com países como Síria, Irã e Cuba pós-irmãos Castro. A questão palestina também não avançou, apesar dos esforços de última hora em Anápolis. O próximo presidente herda relações estremecidas com a Rússia e uma ameaça de reedição da Guerra Fria. Paquistão, com seus santuários para terroristas e governo volátil, será outro abacaxi.