Título: Bancos travam o crédito para empresas
Autor: Pereira, Renée; Aragão, Marianna
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2008, Economia & Negócios, p. B1

A rigidez dos bancos na concessão de crédito começa a sufocar as empresas brasileiras que precisam de capital para tocar os negócios. Nas últimas semanas, com a deterioração da crise financeira e as incertezas sobre os rumos da economia mundial, o dinheiro praticamente desapareceu do mercado e comprometeu o planejamento estratégico de companhias de setores e tamanhos diferenciados. Quem teve o privilégio de, pelo menos, ser atendido pelos gerentes bancários levou um susto com as condições embutidas nas linhas de financiamento: as taxas de juros dobraram, os prazos encolheram e as garantias foram ampliadas.

Nem mesmo o esforço do Banco Central (BC) para irrigar o mercado de crédito conseguiu comover as instituições financeiras. Quase todo o dinheiro liberado do recolhimento dos compulsórios - que deveria manter a oferta de crédito no mercado - voltou para os cofres da autoridade monetária. Os bancos preferiram comprar títulos públicos a emprestar ao setor produtivo. Na sexta-feira, o volume de recursos que retornou ao BC ficou em R$ 65 bilhões, ante uma média de R$ 29 bilhões em agosto e R$ 49 bilhões em setembro.

Em estrevista ao Estado, o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Fabio Barbosa, disse que as medidas ainda não fizeram o efeito esperado porque nem todos os recursos foram liberados. Ele ressalta, porém, que mesmo quando isso ocorrer o crédito ficará mais caro. ¿Teremos uma condição melhor que a das últimas semanas, mas não é o cenário de seis meses atrás.¿

No mercado há quem diga que a falta de confiança dos bancos está relacionada às perdas milionárias de grandes empresas em operações de derivativos, a exemplo de Sadia, Aracruz e Votorantim. ¿Como ainda não se sabe quais companhias estão expostas ao chamado subprime brasileiro, as instituições ficam com um pé atrás em dar crédito e ficar no prejuízo lá na frente¿, explica o analista da Austin Rating, Luiz Miguel Santacreu. Junta-se a isso o fato de haver uma grande incerteza sobre os efeitos da crise mundial na economia brasileira.

Nesse clima de desconfiança, as empresas foram obrigadas a peregrinar pelos bancos para conseguir um financiamento, muitas vezes sem sucesso. Durante a reportagem do Estado, alguns empresários preferiram não se identificar com medo de represálias dos bancos. Mas relataram que a situação tem dificultado o seu dia-a-dia.

A falta de capital de giro tem atrapalhado o andamento de projetos já iniciados com objetivo de aumentar a capacidade instalada do País. Em casos de grandes obras, muitas empresas não conseguem repactuar financiamentos que vencem neste momento, destacou o presidente da IP Desenvolvimento Empresarial e Institucional, Ingo Plöger. ¿Todos estão sendo surpreendidos pela velocidade da crise.¿