Título: UE busca gestão econômica comum
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2008, Economia, p. B6

Até setembro passado, ¿governança econômica comum¿ era um tema esquecido por políticos e restrito a disciplinas acadêmicas nas principais universidades da União Européia. Com o abalo no sistema financeiro, falar em política econômica unificada no maior bloco econômico do mundo deixou de ser a utopia de seus fundadores. Nos últimos oito dias, Reino Unido, França e Alemanha aprovaram, em acordo com os outros 24 membros, medidas de integração da gestão financeira cuja discussão era virtualmente proibida desde a criação do euro, em 1999.

O alerta de que a governança econômica européia está andando em passos largos foi feito pela Fundação Robert Schuman, um dos organismos que se dedicam a estudar a unificação política e econômica do continente.

Nunca até a Cúpula de Paris, no domingo passado, a coordenação econômica foi tão forte na UE. A reunião selou a criação de fundos nacionais para recapitalização e garantias de empréstimos interbancários que somaram 1,875 bilhão - pacote três vezes maior, em volume de recursos, que o Plano Paulson, anunciado nos EUA.

Depois disso, líderes políticos criaram em Bruxelas, na quinta-feira, novas regras comuns de transparência contábil, um colégio de supervisores para fiscalizar a ação dos bancos e um gabinete unificado de gestão da crise econômica, em contato direto com ministros da Economia, com o Banco Central Europeu (BCE) e com a Comissão Européia.

As divergências ainda existem e emperram, até aqui, acordos mais profundos, como a construção da Comissão Bancária Européia, órgão que integraria a supervisão do sistema financeiro. No entanto, disse ao Estado Jean-Dominique Giuliani, presidente da Fundação Robert Schuman, desde o início da circulação do euro nunca houve tantos avanços no sentido da gestão financeira unificada. Para Giuliani, o ponto nevrálgico dos desacordos que cresceram na última década, o grau de intervenção do Estado na economia, foi superado. ¿Mesmo durante a crise, Reino Unido e Alemanha usaram seus pesos políticos para adiar ao máximo a nacionalização dos bancos. Mas ficou evidente que precisávamos de uma ação coordenada.¿