Título: Empresas que apostaram em derivativos não terão um tostão
Autor: Oliveira, Ribamar
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/10/2008, Economia, p. B3

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que o governo não vai assumir os prejuízos das empresas com derivativos de câmbio. Várias empresas exportadoras fizeram operações financeiras apostando na queda do dólar e tiveram grandes perdas quando a moeda disparou, em virtude da crise financeira.¿Essas empresas é que terão que arcar com os prejuízos, o governo não vai dar um tostão¿, garantiu, em audiência pública, ontem, na Câmara dos Deputados.

Mantega disse que esse é um problema privado e assim será tratado pelo governo.¿O governo está apenas dando liquidez para que essas empresas possam superar este momento. Aqueles que apostaram vão pagar o preço, mas acredito que vão conseguir sair dessa¿, afirmou. Para o ministro, as companhias que fizeram essas operações são saudáveis, com boa lucratividade e terão condições de enfrentar o problema.

O governo não sabe o volume do prejuízo com derivativos cambiais, de acordo com Mantega. Informações extra-oficiais dão conta de que cerca de 200 empresas exportadoras estariam em dificuldades decorrentes dessas operações. Até agora, apenas a Sadia, a Aracruz e a Votorantim assumiram publicamente perdas milionárias.]

O ministro acredita que ¿haverá outras¿, mas com problemas menores. ¿Tenho lido nos jornais que algumas estão em negociações com os bancos que fizeram as operações para encontrar uma solução.¿

`OTIMISMO DE FACHADA¿

Durante a audiência, vários deputados da oposição acusaram o governo de ter subestimado a crise, ao apresentar o Brasil como uma ilha de tranqüilidade, em meio à turbulência mundial, numa atitude que o deputado Paulo Bornhausen (DEM-SC) classificou de ¿otimismo de fachada¿. O líder do PPS, deputado Fernando Coruja (SC), viu ¿um certo exagero no otimismo¿ de Mantega, que estimou um crescimento entre 4% e 4,5% do Brasil no próximo ano.

¿O governo precisa ter mais responsabilidade, sob o risco de vender ilusão¿, disse Coruja. O líder da minoria, Zenaldo Coutinho (PSDB-PA), pediu que o governo defina ¿uma estratégia verdadeira de enfrentamento da crise¿ e adote um pacote de medidas que ajude a restabelecer a confiança nos mercados.

Ao rebater as críticas, Mantega disse que já em julho o governo elevou o superávit primário em mais 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) ¿com um olhar para a crise¿. Ele negou que tenha subestimado a crise ou que o governo não tenha agido com presteza.

¿Para resolver a falta de crédito, o governo anunciou que vai liberar R$ 100 bilhões do depósito compulsório dos bancos. Se isso não é uma medida forte, eu não sei mais o que é forte¿, observou. O ministro disse que o governo não adotará pacotes, mas ¿respostas objetivas¿ aos problemas que forem aparecendo.

Para Mantega, a crise financeira global não está próxima do fim e ainda dará ¿muita dor de cabeça¿ ao país. ¿Eu não acredito que a crise esteja acabando ou em vias de acabar. Ela ainda vai nos dar muita dor de cabeça e muito trabalho, mas acho que a fase mais aguda tenha acabado. Continuará havendo volatilidade, mas vejo uma acomodação.¿

COLABOROU RENATA VERÍSSIMO