Título: O controle da dengue
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2008, Notas & Informações, p. A3

O governo federal desenvolve novos esforços para o combate à dengue, elevando os recursos financeiros, buscando maior apoio das Forças Armadas, adquirindo equipamentos e reforçando as imposições legais, além de convocar para treinamento secretários de saúde e profissionais responsáveis pelo controle da doença. O Teto Financeiro de Vigilância em Saúde terá aumento imediato de R$ 128 milhões, o que eleva o orçamento anual para R$ 740,2 milhões, 30% mais do que foi repassado em 2007 para o controle da doença.

Além desses recursos, serão investidos R$ 40,3 milhões em campanha publicitária a ser veiculada em todo o Brasil, a partir da próxima semana, e R$ 13,3 milhões na compra de 300 máquinas de pulverização de inseticida e de 340 carros e motocicletas, numa tentativa de reforçar os órgãos estaduais e municipais. Neste ano, a folha de pagamento de agentes de saúde lotados nos municípios que atuam com vigilância consumiu R$ 269 milhões. Outros R$ 20 milhões foram usados para compra de inseticidas e R$ 1,2 milhão na capacitação de profissionais.

Com os recursos adicionais, 633 secretarias da saúde do País poderão atender mais rapidamente a situações de emergência por meio da contratação de pessoal mais qualificado, melhorar as formas de atendimento e inovar nas ações de combate ao mosquito. Conforme o Ministério da Saúde, 13 aglomerados urbanos em 12 Estados têm maior potencial de circulação do vírus tipo 2 da dengue: Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás, Espírito Santo, Minas Gerais, Pará, São Paulo (Campinas e Baixada Santista), Sergipe, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Rondônia.

Entre janeiro e setembro, a dengue matou 174 pessoas no Rio, 48 por sua forma hemorrágica. Ao todo, foram mais de 247,7 mil casos notificados nos primeiros nove meses deste ano e ainda estão sob investigações 150 óbitos. No Distrito Federal, entre janeiro e agosto, houve 3,1 mil notificações, quase o dobro dos 1,7 mil casos registrados em 2007.

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, assinou portaria recomendando às Secretarias estaduais e municipais da saúde que orientem, fiscalizem e punam estabelecimentos comerciais e industriais que não atentarem para a formação de criadouros. Finalmente, essa medida foi tomada. Há anos, especialistas lembram a importância de se evitar a aprovação de construções que favoreçam a formação de criadouros, de fortalecer a fiscalização de obras com caçambas abertas que abrigam as larvas e de impedir o uso de caixas d¿água abertas e a má drenagem de superfícies impermeabilizadas, como as lajes, principalmente de prédios comerciais e industriais e de casas na periferia.

Pesquisa da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, realizada em 2,5 milhões de imóveis no ano passado, mostrou que recipientes fixos, como calhas, lajes, ralos e fontes, representam quase 9% dos locais com registro de larvas do mosquito Aedes aegypti. Apesar de parecer pequena a porcentagem, esses criadouros podem anular todo o esforço feito nas vizinhanças.

Segundo levantamentos do Ministério da Saúde, a população conhece e sabe o que é necessário fazer para combater a doença. Falta, assim, transformar o conhecimento em ação permanente. No País, cerca de 70% dos casos de dengue registrados anualmente ocorrem no período de janeiro a maio. Portanto, este é o momento de intensificar as medidas de combate aos vetores.

O ministro da Saúde teme que a troca de prefeitos prejudique a continuidade das ações de prevenção à dengue.

No ano passado, período em que o País registrou recordes de ocorrências em vários Estados, o descaso e a falta de sintonia entre as esferas de governo resultaram na multiplicação dos criadouros nos ambientes urbanos e na péssima assistência aos doentes nas redes públicas de saúde, onde doentes esperavam horas por atendimento, enfrentavam falhas de diagnósticos, falta de médicos e demais funcionários e carência de estrutura laboratorial. Neste ano há dinheiro e espera-se que os problemas não se repitam.