Título: Padres ligados a pastorais lançam manifesto pró-Marta
Autor: Brandt, Ricardo; Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2008, Nacional, p. A4

Com fortes críticas ao governador José Serra (PSDB) e ao prefeito Gilberto Kassab (DEM), cerca de 100 padres da Igreja Católica vinculados a pastorais sociais divulgaram ontem um manifesto de apoio à candidata do PT, Marta Suplicy, que será distribuído em missas a partir de hoje. O confronto entre policiais civis e militares pontuou o encontro: antes da leitura da carta aos cristãos, religiosos e petistas associaram Kassab ao projeto de Serra, definido ali como ¿excludente¿.

Mesmo sem citar Kassab, o manifesto, assinado pelo ¿Fórum de Católicos pela Justiça, em favor dos mais pobres¿, contém estocadas no prefeito e candidato à reeleição e diz que é dever de todo cristão dar um ¿basta definitivo aos resquícios da ditadura¿. A mensagem pede respeito a moradores de rua, ¿tratados como lixo¿, e até à classe média, ¿constantemente ludibriada por propagandas enganosas que constroem personagens políticos inexistentes, demonizando uns e tornando anjos outros¿, para concluir que os cristãos não podem se omitir no segundo turno.

¿Vocês estão fazendo a escolha dos mais fracos, dos pobres¿, disse o chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, diante de religiosos reunidos na Região Episcopal Belém.¿Não vale a gente dizer que defende o povo e apoiar projetos que afastam o povo da rua nem dar cheque de R$ 5 mil, o cheque-despejo¿, insistiu, numa referência a programa do governo Kassab.

Ex-seminarista e homem forte da gestão Lula, Carvalho foi um dos ideólogos do manifesto com o slogan ¿A esperança vai vencer de novo¿, que embala a campanha de Marta.

Com tiragem de 500 mil exemplares, a carta foi redigida por três padres e tem o objetivo de combater ¿preconceitos e intrigas¿ divulgados contra a candidata do PT, defensora incansável do aborto e da união civil entre homossexuais.

Ao contrário da estratégia anterior da campanha de Marta, que procurava desvincular Kassab de Serra - por causa da boa avaliação do tucano -, todos os que ontem ocuparam o microfone fizeram a associação entre os dois, num sinal de que a má repercussão do confronto entre policiais será cada vez mais explorada.

¿Espanta-nos que o governador queira debitar esse conflito na conta dos movimentos sindicais e de partidos¿, argumentou o padre Júlio Lancellotti, ao dizer que Kassab e Serra têm o mesmo projeto político, que privilegia a ¿limpeza social¿.

¿Não escolhemos candidatos pela cor do cabelo, não queremos saber se usam botox ou não nem estamos discutindo opções sexuais¿, afirmou o padre Tarcísio Marques Mesquita. ¿O que estamos discutindo aqui são os interesses da cidade de São Paulo.¿