Título: Construção quer apoio de R$ 4 bi
Autor: Otta, Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2008, Economia, p. B3
O setor de construção civil estima que necessitará de um socorro num valor entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões. Esse montante será suficiente para que não haja uma queda brusca no número de empreendimentos em 2009, segundo o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady Simão. ¿Não podemos deixar a peteca cair.¿ Ele acredita que as medidas para o setor prometidas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, virão na forma de linhas de crédito, a exemplo do que já foi feito para a agricultura e para os exportadores.
¿Instrumentos, há muitos¿, disse o empresário. ¿Pode ser linha de crédito do BNDES ou da Caixa ou pode ser liberação de compulsório.¿ Ele explicou que hoje 30% dos recursos da caderneta de poupança são recolhidos pelo Banco Central na forma do depósito compulsório. O governo poderia liberar parte desses recursos, direcionando o dinheiro para as construtoras.
Outra possibilidade seria criar mecanismos para que as construtoras descontem recebíveis. Ou seja, permitir que elas transformem em dinheiro, agora, os créditos que vão entrar em seu caixa nos próximos meses e anos, decorrentes da venda financiada de imóveis. Segundo Simão, muitas empresas começaram a construir na expectativa de conseguir empréstimos para concluir a obra. Como as condições de crédito agora estão mais difíceis, uma solução seria a construtora vender seus recebíveis.
A presidente da Caixa Econômica Federal, Maria Fernanda Ramos Coelho, informou ontem que a instituição poderá criar uma linha de crédito para a construção civil ou modificar linhas que já oferece para o setor. A Paulo Simão, ela garantiu que há recursos disponíveis. ¿Falta só criar um instrumento¿, disse o empresário.
Ele reconheceu que a crise produzirá efeitos negativos no setor. Muitas construtoras já anunciaram a revisão de seus planos de investimento para 2009, diante da perspectiva de menor crescimento econômico. Os adiamentos nem sempre são motivados por falta de dinheiro. Muitas vezes, trata-se de medida de precaução. ¿No atual quadro, muitas empresas não querem colocar a mão no bolso, preferem guardar.¿ Simão não soube estimar quantas empresas sofrem com a dificuldade de obter crédito.
MOMENTO DE ATENÇÃO
O governo deve estar atento para que não falte financiamento nem para as construtoras nem para os mutuários, disse ontem o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Júlio Sérgio Gomes de Almeida. Ele explicou que muitos empreendimentos lançados ao longo deste ano estão chegando a uma etapa na qual precisam de crédito para ser concluídos. É preciso assegurar que os empréstimos estarão disponíveis, recomendou.
No fim do ano, os prédios estarão prontos e será o momento de os compradores tomarem empréstimo bancário. ¿O comprador já pagou uma parte e a construtora corre o risco de ficar com um mico na mão.¿
Simão acha que haverá financiamento para os mutuários. ¿Os bancos estão mais seletivos, mas esse é um setor com baixa inadimplência¿, afirmou.
PREVENÇÃO
Sobre a possível criação de uma nova linha de crédito para a construção civil, a presidente da Caixa disse que o governo federal quer apoiar o setor como ¿uma ação preventiva¿.
Ela declarou que a Caixa ¿continua operando de vento em popa¿ nos financiamentos para a construção civil. Maria Fernanda informou que, de janeiro até 15 de outubro, o banco financiou já R$ 17,4 bilhões, valor 55% superior ao crédito concedido no mesmo período do ano passado. ¿Estamos fazendo uma média de mais de R$ 100 milhões por dia¿, afirmou. ¿Não sentimos nenhuma redução de demanda. O setor está operando muito bem.¿
Ela disse que no Brasil o déficit habitacional é muito grande e a massa salarial está crescendo. Também argumentou que as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ajudam o setor.
A presidente da Caixa lembrou que as fontes de recursos da instituição para o crédito habitacional são a poupança, que já captou R$ 8,5 bilhões em 2008, e o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), cujo orçamento é alocado no início do ano.
Assim, de acordo com Maria Fernanda, a Caixa não enfrenta dificuldade de obtenção de recursos para o financiamento imobiliário. ¿Não aumentamos as taxas de juros¿, acrescentou. A executiva participou, ontem, da cerimônia de entrega das chaves de 140 habitações de baixa renda subsidiadas pelos governos federal, estadual e municipal na Cidade de Deus, zona oeste do Rio.