Título: Confiança do consumidor cai 10%
Autor: Porto, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/10/2008, Economia, p. B4

A crise derrubou a segurança do consumidor em outubro. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) caiu 10% no mês, após subir 4,2% em setembro. Foi a mais intensa queda da história do índice, iniciada em setembro de 2005. Segundo informou ontem a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a baixa foi puxada principalmente pelas famílias de São Paulo, e por consumidores com renda mais elevada.

Na prática, são estes consumidores os que mais investem no mercado financeiro, fortemente prejudicado pela crise. Para o coordenador de Sondagens Conjunturais da FGV, Aloísio Campelo, de uma maneira geral a crise deixou o brasileiro mais cauteloso e pessimista quanto ao futuro.

Ele não descartou que este cenário possa afetar as vendas de fim de ano. ¿Certamente, as previsões quanto às vendas de Natal, em relação ao ano passado, tendem a se tornar mais modestas¿, afirmou Campelo. Em outubro, houve piora tanto na avaliação do consumidor sobre o cenário atual, como em suas projeções para o futuro.

O ICC é dividido em dois indicadores: o Índice de Situação Atual (ISA), que caiu 12,7% em outubro após subir 7,9% em setembro, e o Índice de Expectativas (IE), que apurou taxa negativa de 8,5% em outubro, após avançar 2,1% em setembro. ¿O índice de expectativas também atingiu o pior nível da série do ICC¿, acrescentou Campelo.

Foram entrevistados consumidores em 2.000 domicílios de sete capitais. Nas famílias com renda acima de R$ 9.600, o recuo no ICC foi mais intenso do que a média geral: 14,1% no mês. Somente em São Paulo, o ICC caiu 12,6% em outubro. Essas duas taxas negativas também foram as mais fortes dos últimos três anos. Para Campelo, esse dado é preocupante, visto que o perfil desse tipo de consumidor é o que tem maior potencial para compras.

Notícias sobre restrição de oferta de crédito também deixaram o consumidor mais cauteloso, o que é perceptível nas projeções de compras de bens duráveis. Em outubro, 17,2% dos entrevistados informaram que planejam comprar mais bens duráveis nos próximos meses, patamar inferior ao de igual mês do ano passado (18,4%).

Na análise de Campelo, esse resultado é bem atípico para um mês de outubro, quando os consumidores estão mais propensos a gastar, por causa da perspectiva de recebimento do décimo terceiro salário. Mas o coordenador ressaltou que não há como saber se essa trajetória negativa na confiança do consumidor é sustentável.