Título: Dilma acena com socorro a usineiros em dificuldades
Autor: Porto, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/10/2008, Economia, p. B4
A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, sinalizou ontem que o governo poderá socorrer o setor de açúcar e álcool, altamente endividado e sem crédito para conseguir refinanciamento, após um boom de expansão iniciado em 2003. A junção das crises de liquidez mundial e de preços não remuneradores obrigou muitas companhias do setor a adiar projetos, o que ameaça o investimento de US$ 33 bilhões estimado para novas usinas até 2012.
¿Se ele (setor sucroalcooleiro) procurar (o governo) e mostrar onde está o problema de crédito, seguramente (poderá receber ajuda)¿, disse Dilma após palestra para empresários em São José do Rio Preto (SP). Ela avisou, no entanto, que o governo será criterioso na ajuda aos usineiros. Disse que eles precisam, antes, tentar resolver seus problemas com os bancos privados - para que liberem o dinheiro da redução dos depósitos compulsórios no Banco Central (BC).
¿Nós achamos importantíssima a presença dos bancos privados neste momento. Achamos que os bancos privados, com a liberação do compulsório, têm de emprestar. Não há porque o Brasil assumir um risco de crédito que não é dele e não pode haver esse contágio por efeito de demonstração¿, disse Dilma.
Além do risco para os novos projetos, a crise financeira mundial fez com que muitas companhias chegassem a situações críticas, com falta de capital de giro para os compromissos diários, atraso no pagamento de fornecedores de cana e, ainda, a impossibilidade renegociação das dívidas de curto prazo.
A indústria de base do segmento de açúcar, álcool e energia fala em 30% de inadimplência ou adiamento de entregas de encomendas contratadas, o que motivou um encontro, ontem, em Sertãozinho (SP), principal pólo das ¿fábricas de usinas¿ do País.
Desse encontro deve sair uma carta elaborada por representantes de toda a cadeia produtiva do setor de açúcar, álcool e energia, a ser entregue ao governo na próxima semana, em Brasília.
De acordo com a ministra, o governo federal acaba de dar aos bancos públicos as mesmas condições oferecidas aos bancos privados ao editar, ontem, a Medida Provisória (MP) 443, que regulamenta a compra de participação do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal em instituições financeiras privadas.
¿É, de fato, aumentar a transparência desse segmento e não deixar os bancos médios só nas mãos dos grandes bancos privados, para que esses imponham preços ao adquirirem esses bancos (menores)¿, disse Dilma. ¿O banco público hoje tem todas as condições dos grandes privados para atuar no mercado.
RECESSÃO IMPROVÁVEL
Dilma Roussef afirmou, ainda, que não há motivo para desespero diante do cenário negativo da crise internacional de liquidez. Ela também garantiu que ¿é quase impossível¿ que o Brasil enfrente uma recessão diante das recentes medidas tomadas pelo governo federal.
¿Não vamos deixar ninguém especular a favor da crise, mas acho que tem gente querendo o quanto pior, melhor¿, concluiu a ministra, após o evento, que se configurou em ato de apoio ao candidato a prefeito do PT no segundo turno Na cidade paulista, João Paulo Rillo.