Título: Disputa limita-se a redutos de Bush
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/10/2008, Nacional, p. A19
O principal objetivo dos candidatos John McCain e Barack Obama na última semana da campanha presidencial tem sido passar quase todo o tempo que resta em Estados nos quais o presidente George W. Bush venceu na eleição de 2004. O esforço de McCain em reconquistar territórios que antes eram garantidos para os republicanos evidencia cada vez mais a precária posição do candidato e de seu partido à medida que o dia da votação se aproxima.
A equipe do democrata pretende agora dar ênfase a temas mais amplos e menos partidários. ¿Neste momento, estamos bem colocados, mas nove dias são um período muito longo¿, disse David Axelrod, principal estrategista da campanha de Obama.¿Está na hora de avaliar a questão em termos mais amplos.¿
Já McCain está concentrando seu trabalho na Pensilvânia - único Estado que votou nos democratas em 2004, no qual a campanha dele acredita que teria alguma chance de ganhar. Além disso, o republicano e sua candidata a vice, Sarah Palin, planejam dedicar a maior parte do tempo à Flórida, Ohio, Virgínia, Carolina do Norte, Missouri e Indiana - Estados considerados garantidos pelos republicanos no início da campanha, mas onde Obama tem ganhado espaço nas últimas semanas.
ORGANIZAÇÃO POLÍTICA
Enquanto o democrata usa recursos e organização política para tentar ampliar sua vantagem no mapa político americano, McCain está sendo obrigado a fortalecer sua base em Estados onde os republicanos vencem há décadas, como Indiana e Carolina do Norte. Para tentar reverter o quadro desfavorável, assessores do republicano dividiram o número de comícios entre McCain e Sarah para assim poder fazer campanha em mais áreas nos últimos dias antes da votação.
Embora alguns republicanos afirmem que ainda têm esperança de que McCain consiga se recuperar, sinais indicam uma crescente preocupação com a possibilidade de o candidato e o partido caminharem para uma derrota que os deixarão enfraquecidos por anos. A campanha do candidato republicano deixa entrever lutas internas, com sinais de tensão entre os assessores de McCain e a equipe de Sarah, e tem sido sujeita a críticas abertas inusitadas de outros republicanos a respeito da condução da estratégia eleitoral.
O contorno destes últimos dias mostra que neste momento se conclui a estratégia montada pelos assessores de Obama: utilizar a enorme vantagem que obteve na captação de fundos para conquistar o maior número possível de Estados, superando McCain nos últimos dias da corrida presidencial.
A decisão tomada em junho por Obama de abrir mão do financiamento público e recorrer a doações privadas para financiar sua campanha foi uma das principais razões para o sucesso de sua candidatura.
Obama é o primeiro candidato presidencial a abrir mão do financiamento público - que limita os gastos de campanha a US$ 84 milhões - desde sua implementação, em 1976. Com o dinheiro a mais em caixa, ele pôde investir em peso em Estados tradicionalmente republicanos, pagar propagandas em videogames e comprar espaço de meia hora nas principais emissoras do país para um anúncio em cadeia, que irá ao ar amanhã.
As pesquisas divulgadas recentemente confirmam o sucesso da estratégia de campanha adotada por Obama e sua equipe. O democrata conseguiu consolidar sua liderança em cinco dos oito Estados-chave para a eleição do dia 4, segundo apontou uma série de estudos divulgados ontem pela Reuters/C-SPAN/Zogby.
A maioria das pesquisas mostra Obama com vantagem folgadas nos Estados em que John Kerry venceu, em 2004, mas McCain enfrenta problemas em Estados conquistados por Bush no mesmo ano. De acordo com médias feitas pelo site Real Clear Politics, Obama está na frente na Carolina do Norte (48,8% a 47,3%), Missouri (47% a 46%), Nevada (49% a 45,5%), Ohio ( 50% a 44%) e Virgínia (51,6% a 43,9%). A vantagem de Obama na Virgínia, território considerado republicano desde 1964, é um feito histórico.
Os dados obtidos pela Zogby dão a McCain a liderança em dois Estados-chave - Indiana (50% a 44%) e Virgínia Ocidental (50% a 40%). Na Flórida, os dois candidatos estão empatados em 47% das intenções de voto. Contudo, na média das pesquisas, Obama está ligeiramente na frente tanto em Indiana (46,8% a 46,5%) quanto na Flórida (47,7% a 45,8%). O Estado - que deu seus 27 votos no Colégio Eleitoral para Bush em 2000 e 2004 - é considerado fundamental para a eleição do próximo presidente americano. Obama planeja intensificar sua presença na Flórida ainda mais e tem programado para amanhã um comício em Orlando, do qual participará o ex-presidente Bill Clinton.