Título: Mortes por aids devem cair, diz OMS
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/10/2008, Vida &, p. A23
Em 20 anos, acidentes de carros matarão mais que a aids. Dados apresentados ontem pela Organização Mundial da Saúde (OMS) alertam que as sociedades viverão uma transformação nas causas de morte até 2030. O número de mortes por aids, hoje de 2,2 milhões de pessoas por ano, continuará aumentando até 2012. Mas, a partir de então, sofrerá queda brusca e fará 1,2 milhão de vítimas por ano até 2030, e não mais de 6 milhões, como se previa antes.
Mais informações sobre doenças no mundo e o relatório completo
O relatório da OMS sobre as doenças no mundo é publicado apenas a cada cinco anos. Segundo a entidade, as doenças cardiovasculares são as principais causas de morte no mundo, superando aids, tuberculose, malária ou mesmo homicídios.
Os dados são de 2004, último ano em que a OMS levantou informações de todos os 193 países. Naquele ano, foram 58,8 milhões de mortes. Um quinto delas foi de crianças de até 5 anos.
Em cada região do mundo, porém, as ameaças à vida são diferentes. Na África, metade das mortes é de jovens com menos de 16 anos. Nos países ricos, apenas 1% das mortes envolve essa parcela da população, porque a maior parte é de pessoas com mais de 60 anos.
Anualmente, 10,4 milhões de crianças morrem no mundo, metade delas na África.
NA FRENTE
Atualmente, na liderança absoluta das causas de morte estão os ataques cardíacos, responsáveis por 12% das vítimas, seguidos por acidentes vasculares cerebrais (AVC), com 9,7%. Em terceiro lugar estão as doenças respiratórias. Em 2030, porém, a situação será diferente. A mortalidade deve cair, em especial para doenças transmissíveis, como aids e malária.
Em 2004, 2 milhões de pessoas morreram de aids. O número deve atingir 2,4 milhões em 2012, mas, com as campanhas, o acesso a remédios e os programas de ajuda, a tendência será revertida.
No momento atual, a aids já não aparece entre as dez maiores causas de morte nos países ricos. Nos países de renda média, como o Brasil, o HIV também não faz parte da lista dos dez maiores vilões. Já nos países mais pobres é a quarta maior causa.
No total, portanto, a aids era a sexta maior causa de mortes no mundo em 2004. Em 2030, cairá para o décimo lugar e acidentes de carros vão superar o HIV. Até lá, os óbitos por acidentes vão aumentar de 1,3 milhão para 2,4 milhões. Os acidentes passarão a ser o quinto maior responsável por mortes, principalmente devido ao crescimento econômico dos países em desenvolvimento e o acesso mais fácil a carros.
Outro fator importante será o envelhecimento das populações, resultante do desenvolvimento econômico. O número de mortes por câncer vai aumentar e as doenças não transmissíveis serão responsáveis por 75% das mortes no mundo. O câncer passará de 7,4 milhões de vítimas em 2004 para 11,8 milhões em 2030.
Para o diretor de Epidemiologia da OMS, Colin Mathers, esses cálculos na queda do número de doenças transmissíveis apenas ocorrerão se o crescimento econômico for mantido. Ele admite que pode haver problemas no desenvolvimento dos sistemas de saúde se a atual crise econômica se transformar em recessão prolongada. ¿Existem dois riscos. Um é de que governos tenham menos dinheiro para seus hospitais e investimentos em saúde. Outro problema é que a crise pode cortar o dinheiro de programas e doações de países ricos aos pobres. Nesse caso, a crise pode ter um impacto¿, afirmou Mathers. Ele alerta ainda que o nível de stress e de suicídios também pode aumentar.