Título: Lula diz que é questão de honra manter a economia aquecida
Autor: Nossa, Leonencio; Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2008, Economia, p. B8

Em reunião ontem com empresários, no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrou preocupação ¿com a economia real¿ e com a manutenção das vendas no mercado interno. Segundo relato de participantes do encontro, o presidente prometeu se empenhar para que a economia brasileira não sofra demasiadamente os efeitos da crise e agir para restabelecer o crédito bancário ao setor produtivo. ¿É questão de honra manter a nossa economia aquecida¿, afirmou. ¿O crédito é o oxigênio da economia, e não vai faltar¿, disse Lula.

Durante audiência com integrantes do comitê gestor do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), Lula disse ainda que os financiamentos do Banco do Brasil (BB) para a aquisição de carros deverão se limitar a 36 parcelas. Ele voltou a garantir que o banco atuará de forma mais agressiva no setor, mas descartou financiamentos a longo prazo.

Lula disse que os compradores de automóveis já não estão aderindo a planos de financiamento em 80 meses, segundo relatos do empresário Antoninho Marmo Trevisan e do ex-governador do Rio Grande do Sul Germano Rigotto, integrantes do grupo. ¿O presidente enfatizou muito a preocupação dele com o setor automobilístico¿, relatou Trevisan. ¿Ele disse que o Banco do Brasil vai financiar veículos, certamente não mais nos níveis que nós tínhamos, de 60, 80 meses, mas num número razoável de meses, como está se fixando de 36 meses.¿

O empresário ressaltou que o governo não vai trabalhar para reduzir o prazo dos financiamentos de outros bancos. ¿Ele (Lula) enfatizou que o Banco do Brasil vai focar nos financiamentos de três anos.¿

MERCADO INTERNO

¿O presidente está focado no mercado interno¿, avaliou Trevisan. ¿Ele tomará todas as medidas para que o mercado interno não seja prejudicado.¿ Aos integrantes do conselho, Lula ressaltou que o governo está empenhado também em manter o andamento das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). E avaliou, de acordo com o empresário, que os efeitos da crise não seriam sentidos pela economia brasileira se não tivessem ocorrido operações de empresas com derivativos.

Outro participante da reunião, Paulo Godoy, da Associação Brasileira de Infra-Estrutura e Indústria de Base (Abdib), disse que sugeriu ao presidente criar um fundo de R$ 10 bilhões para garantir a continuidade de obras de infra-estrutura no setor privado. Esses R$ 10 bilhões viriam, segundo ele, dos fundos de pensão, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Caixa Econômica Federal. Lula teria achado a idéia ¿interessante¿.

DUETO

No encontro, Lula afirmou que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ¿formam uma dupla perfeita¿. ¿O Meirelles e o Guido estão fazendo uma parceria que parece um dueto, nunca estiveram tão afinados¿, disse o presidente, segundo Trevisan.

O empresário, ao responder à pergunta sobre a reação do presidente a um pedido do conselho para que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, interrompa, na próxima reunião, dia 29, o processo de aumento da taxa básica de juros (Selic), contou que Lula evitou falar sobre o assunto. ¿O presidente não fez comentários sobre juros, mas, se eu tivesse de apostar, eu apostaria que a decisão do Copom é de, pelo menos, manter a taxa Selic, o que já seria um sinal positivo, embora o desejo de todos seja a redução.¿

O conselho propôs ainda que o BC atue para estabilizar o câmbio e restabelecer o crédito ao setor produtivo. Porém, segundo os próprios integrantes do conselho, algumas das propostas já estão sendo implantadas.