Título: Nos EUA, 94% estão ligados a laboratórios
Autor: Leite, Fabiana; Sant'anna, Emilio
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/10/2008, Vida &, p. A15
No Brasil não há dados sobre a relação médicos-indústria farmacêutica, mas pesquisa realizada nos Estados Unidos e publicada no ano passado no New England Journal of Medicine apontou que 94% dos profissionais do país tinham algum tipo de relação com a indústria. A mais comum era o recebimento de alimentos no local de trabalho, mas 28% ganhavam por palestras e consultorias.
Conferencista em eventos da indústria e convidado em congressos, o endocrinologista e professor titular da Unifesp Antônio Chacra diz aceitar cada vez menos convites por falta de tempo e que vê com preocupação o financiamento de médicos inexperientes.
¿Em determinada fase, é uma maneira de difundir assuntos. A educação médica continuada tem sido feita pela indústria, tendo em vista que os simpósios são caros e as sociedades médicas não têm recursos para organizá-los. Os conferencistas devem ser principalmente os acadêmicos, mas infelizmente o que se vê é que têm sido chamadas pessoas sem uma análise crítica¿, afirma o professor. Ele diz ser a favor de novas regras para a interação com a indústria, a mesma posição da colega Carmita Abdo. ¿Eu sempre pude divulgar dados levantados e aceitamos apoio de todos os tipos de indústria¿, diz a psiquiatra, que coordena projeto no Hospital das Clínicas da USP e foi chamada pela indústria para apresentar nos últimos anos diferentes estudos sobre sexualidade. ¿Existem jantares, não vou dizer que não vou. Mas meu diferencial é que falo do assunto, não do remédio.¿
¿Ética não é elástica nem varia de acordo com a situação¿, diz a cardiologista Jaqueline Issa, speaker de remédio contra o fumo que não concorda com novas regras. ¿Essa regulação parte do princípio de que o médico não é ético¿, diz ela.