Título: Na bioética não há receita de bolo
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/10/2008, Vida &, p. A17

Não existe ¿receita de bolo¿ para dirimir conflitos éticos no dia-a-dia dos médicos, diz Gabriel Oselka, de 67 anos. É por isso que o Centro de Bioética do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, órgão que ele coordena, tem organizado, nos últimos anos, uma série de debates sobre situações que afligem os profissionais, dos conflitos de interesse com a indústria farmacêutica às situações diárias que os médicos vivem nos serviços de saúde.

É disso que trata o novo livro do centro, com 3 mil exemplares, lançado na semana passada, e que está sendo distribuído gratuitamente em faculdades e outros centros de estudos interessados na discussão.

Bioética Clínica - Reflexões e Discussões Sobre Casos Selecionados conta como um grupo de especialistas reunido especialmente para estudar cada história discutiu, por exemplo, o que um médico tinha como opções diante de índia grávida de gêmeos - isso em uma tribo com a tradição de matar uma das crianças da dupla por considerá-la má. Com base em referências do Direito, Filosofia e Antropologia, eles debateram o que poderia ser feito e as conseqüências.

Outro debate do livro é sobre as questões envolvidas na alocação de recursos em um serviço público, dilema que, alerta Oselka, é cada vez mais freqüente.

Como foi o processo de elaboração do livro?

O que acho mais interessante é a diversidade de avaliações e de desfechos, embora tenha ocorrido uma discussão em conjunto. Isso é muito interessante, porque reflete o que é a ética e a bioética.

Algumas pessoas têm uma visão bastante rígida sobre o que é ético.

Não há essa rigidez. Quando se entra em uma discussão moral, uma pessoa quer que sua idéia prevaleça e, se ela não convence o outro, sente-se derrotada. Mas o importante é que ela justifique moralmente a conduta que defendeu. São raras as situações em que se diz o que é certo ou errado. Não tem receita de bolo. Isso só existe na conduta clínica, você tem tal doença, pode usar tal terapia. Mas o que quisemos foi mostrar as alternativas. O importante é o raciocínio ético.

Qual a importância disso hoje nos serviços de saúde?

Nosso objetivo é que cada vez mais as discussões sobre o que é ético em saúde envolvam vários e diferentes profissionais. Consideramos uma discussão muitas vezes mais importante do que o tratamento, mas não há espaço, não há tempo. Esse livro é para valorizar isso. F.L.

Mais informações sobre o livro: (0xx11) 5908-5647 ou no site www.bioetica.org.br