Título: Caixa e BB liberam crédito extra para compra de carros
Autor: Silva, Cleide
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2008, Economia, p. B9

Mantega e Meirelles confirmaram a dirigentes de montadoras que recursos saem na semana que vem

Cleide Silva

O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal devem iniciar, na próxima semana, a liberação de crédito extra aos consumidores para a aquisição de carros novos e usados. Também farão parcerias com bancos de montadoras e instituições que atuam no financiamento de veículos para ampliar a oferta de crédito no mercado, além de adquirir carteiras de bancos que estejam em dificuldades.

Em reunião de pouco mais de uma hora ontem, em São Paulo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, confirmaram aos dirigentes das montadoras a ajuda prometida nesta semana pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para evitar que a falta de crédito interrompa o ciclo de crescimento das vendas de automóveis no País.

Em outubro, as vendas de veículos novos caíram de 10% a 12% ante setembro, e cerca de 3% na comparação com igual mês de 2007. Até o dia 30, foram vendidos 225,8 mil unidades, e a previsão das montadoras era chegar a 236 mil unidades. No acumulado do ano, as vendas passam de 2,4 milhões de unidades, 24% a mais ante o mesmo período de 2007.

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, disse que as medidas são esperadas a partir de terça ou quarta-feira. Segundo ele, o BB e a Caixa podem optar por emprestar diretamente ao consumidor, comprar carteiras de instituições de pequeno e médio porte ou fazer parcerias com bancos já atuantes do mercado (exceto os de grande porte) por meio de empréstimos indiretos.

O banco estadual Nossa Caixa também poderá participar das ações. Schneider não detalhou montante de empréstimos e nem condições. Mas espera que ¿o reforço de liquidez na ponta do varejo ajude a resgatar o crédito ao consumidor¿.

Cerca de 70% das vendas de veículos são financiadas. Nas últimas semanas, as taxas de juros aumentaram e os prazos de financiamento encurtaram. O mínimo exigido como entrada passou da média de 10% a 20% para até 50% do valor do carro. Segundo revendedores, financeiras que antes concediam crédito para quem tem até 35% da renda comprometida reduziram o índice para 15%.

Mantega e Meirelles não quiseram dar entrevistas ontem. Segundo Schneider, as montadoras também esperam que, nos próximos dias, as medidas já anunciadas pelo governo, como a nova forma de recolhimento do compulsório, comecem a surtir efeitos. ¿A participação dos bancos públicos, direta ou indiretamente, será uma resposta à restrição de crédito.¿

Em outubro, o BB gastou R$ 5,25 bilhões em operações de compra de carteiras de crédito de 14 instituições financeiras, informou a instituição. Desse montante, R$ 3,87 bilhões já foram desembolsados pelo banco público e outro R$ 1,38 bilhão será pago ao longo das próximas duas semanas.

Segundo a direção do BB, 46% do volume das operações já concluídas são carteiras de crédito consignado. Uma parcela de 25% dos créditos já adquiridos são financiamentos para compra de veículos e os demais 29% são de créditos às empresas. Para realizar as operações, o BB afirma dispor de recursos próprios e também dinheiro dos depósitos compulsórios que estão sendo gradualmente liberados pelo BC.

FÉRIAS COLETIVAS

Alegando escassez de crédito, o que teria reduzido a demanda por veículos, a General Motors anunciou ontem novo período de férias coletivas nas fábricas de São José dos Campos e Mogi das Cruzes. A medida envolve 4.250 funcionários das duas unidades, que ficarão em casa em períodos que variam de duas semanas um mês.

Um dia antes, a GM havia informado que dará férias neste mês a 10,2 mil funcionários das fábricas de São Caetano do Sul e Gravataí (RS). Volkswagen, Fiat e Honda também já recorreram a paradas na produção.