Título: PF vê fraude nos Correios e prende 15 suspeitos
Autor: Tomazella, José Maria; Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/10/2008, Nacional, p. A8

Esquema com agências franqueadas operaria em quatro Estados e no DF

José Maria Tomazella, Fausto Macedo

A Polícia Federal desencadeou ontem a Operação Déjà Vu para desmontar suposto esquema de fraudes em licitações de órgãos públicos e na venda e transferência de agências franqueadas da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). Os prejuízos aos cofres da administração federal são estimados em R$ 21 milhões. A PF calcula, ainda, que o rombo nos Correios alcançou R$ 30 milhões por ano. ¿O esquema utilizado é similar ao detectado pela CPI dos Correios¿, declarou o delegado Eduardo Alexandre Fontes, da PF em Sorocaba. ¿Contas do governo migravam para as franqueadas.¿

A pedido da PF, a 1.ª Vara da Justiça Federal em Sorocaba (SP) autorizou 43 mandados de busca e decretou 19 ordens de prisão temporária. A PF prendeu 15 acusados de crimes de extorsão, tráfico de influência, corrupção ativa e passiva, advocacia administrativa, fomação de quadrilha, falsidade ideológica e descaminho. Dois investigados estão fora do País. Foram apreendidos R$ 500 mil em dinheiro e 5 veículos de luxo, além de computadores.

A ação se espalhou por quatro Estados - São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul - e chegou também ao Distrito Federal.

A investigação começou em janeiro de 2007. Segundo a PF, o grupo contava com a participação de funcionários dos Correios. A PF informou que outro golpe consistia na transferência ilegal de serviços de postagens de grandes clientes para uma franquia específica, privilegiando interesses particulares.

As primeiras suspeitas da Déjà Vu surgiram no município de Votorantim, região de Sorocaba. Auditoria realizada numa agência da cidade constatou irregularidades que seriam passíveis de advertência ou multa. No entanto, o proprietário da franquia recebeu ameaça de descredenciamento e, sob pressão, foi obrigado a vender sua agência a outro franqueado que participava do esquema. Esse mesmo franqueado, preso pela PF, já possuía outros estabelecimentos. A agência estava avaliada em R$ 550 mil e foi vendida por apenas R$ 118 mil.

A PF informou que algumas franquias eram usadas para a remessa de mercadorias para o exterior, com indícios de crimes. A direção dos Correios informou que o departamento jurídico da empresa acompanhará o processo. ¿A direção da ECTmanifesta seu interesse em colaborar o máximo possível com o trabalho de apuração da Polícia Federal, fornecendo todos os subsídios para que o processo transcorra com o máximo de transparência e lisura, sempre respeitando os trâmites legais para as ações dessa natureza¿, destacou a presidência da ECT.