Título: Resultado da balança surpreende
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2008, Economia, p. B2
A balança comercial de outubro trouxe um resultado surpreendente: em relação ao mês anterior, a média por dia útil das exportações teve uma queda de 7,5%; e a das importações, um aumento insignificante de 0,2%. Cabe indagar se se trata do primeiro efeito da crise internacional e qual foi a influência da desvalorização cambial.
Por certo, já em outubro o comércio externo refletiu a crise, mesmo levando em conta o lapso de tempo entre os pedidos e a chegada ou embarque de mercadorias. Mas a desvalorização cambial deveria ter aumentado as exportações e reduzido as importações. Ora, o contrário é que se verificou.
Dois fatores parecem explicar a queda das exportações, além do enfraquecimento da demanda: a forte diminuição de preços das commodities e a pressão dos importadores para obter descontos, uma vez que a desvalorização do real representa aumento de receita para o exportador brasileiro. Em alguns casos, o importador estrangeiro está pedindo prazo maior para o pagamento, justamente num momento em que o exportador brasileiro enfrenta falta de créditos.
O Banco Central procurou amenizar os problemas, alimentando direta ou indiretamente a oferta de dólares no mercado cambial, e por meio da Resolução nº 3.630, que oferece financiamentos subvencionados pela União para diversos setores particularmente atingidos pela falta de crédito.
É preciso notar ainda que as flutuações cambiais acarretam para os exportadores dificuldades na fixação dos seus preços, dado o temor de que, no momento do pagamento, a taxa seja muito diferente da que serviu de base de cálculo no fechamento do contrato.
É função do Banco Central intervir, não tanto para conseguir uma redução da taxa cambial, que reflete as dificuldades do balanço de pagamentos - e afinal é a vantagem de se ter taxa flutuante -, mas para evitar que a flutuação seja excessiva. Verifica-se que, na quinta semana de outubro, com a taxa mais controlada, as exportações (média por dia útil) atingiram o nível mais elevado - o que, em parte, também pode ser explicado pela expansão das vendas de petróleo.
O movimento das importações tem sido mais lógico: um ligeiro aumento se explica pelas encomendas para o final do ano. Se não fosse isso, registrar-se-ia queda das importações, que deverá se acentuar nos próximos meses e compensar, parcialmente, a queda das exportações.