Título: Fortalecido pelas urnas, partido reassume adesismo
Autor: Abreu, Beatriz; Bosco, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/11/2008, Nacional, p. A4

No embalo do sucesso eleitoral colhido das urnas no primeiro e no segundo turnos da corrida municipal, quando bateu o PT em Salvador e Porto Alegre, o PMDB começa a assumir a velha forma que o caracteriza como uma espécie de partido Alien, sempre pronto a tomar o corpo de qualquer governo.

Bastou o PT ameaçar a candidatura do presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), ao comando da Câmara para que a cúpula da sigla abrisse o jogo de poder, avisando que tem cacife para o confronto: pode romper a coalizão e a aliança com o PT e o Palácio do Planalto na sucessão de 2010.

A história recente mostra que o traço principal do maior partido brasileiro, estruturado em 4.671 dos 5.564 municípios, com 1.207 prefeitos eleitos e uma bancada de 93 deputados e 21 senadores, é a adesão.

O MDB, que nasceu frente partidária, evoluiu para o PMDB comandado, na prática, por uma dúzia de caciques regionais que detêm a maioria dos votos dos delegados de cada Estado na convenção nacional. Desse modo, é mais fácil aderir a um governo pronto, na condição de partido indispensável à governabilidade de qualquer presidente - um jeito de submeter todos a um projeto nacional, conflitante com interesses regionais.

De público, os principais articuladores do PMDB se negam a falar de sucessão presidencial, para não criar dificuldades à eleição de Temer. Nos bastidores, porém, há projetos para todos os gostos: da candidatura própria à aliança com o PSDB do governador José Serra.

Ao menos por enquanto, a cúpula não vê futuro na candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). Por isso, um dirigente avisa que a articulação para filiar o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), e transformá-lo em candidato do PMDB ao Planalto não foi arquivada. O flerte continua, como ficou claro em telefonema de Aécio a Temer semana passada.

O governador cumprimentou o presidente do partido pela vitória obtida na corrida municipal e disse que iria procurar o presidente do PMDB mineiro, deputado Fernando Diniz, e o candidato derrotado a prefeito de Belo Horizonte, Leonardo Quintão, para retomar as conversas com o partido.

Quando o líder na Câmara Henrique Eduardo Alves (RN) começou a articulação para atrair Aécio, teve o aval e o estímulo de Lula. O PMDB entendeu, à época, que o Planalto estava aberto à idéia de compor chapa com Dilma na vice e a promover ampla negociação em torno do fim da reeleição e do mandato de cinco anos para o futuro presidente e os governadores.

'CENTRO MÓVEL'

Indagado sobre com quem ficará o PMDB na eleição presidencial de 2010, um influente representante da direção diz não ter dúvida de que cabe apenas uma resposta: com o candidato que tiver perspectiva de vencer. Tanto é assim que a ala mais pragmática prevê uma debandada, ainda que discreta, à primeira pesquisa de intenções de voto que, eventualmente, mostrar Serra à frente de Dilma.

Pesa ainda, a favor do adesismo, o perfil do conjunto partidário, caracterizado como ¿centro móvel¿, apto a invadir o corpo de um governo à esquerda ou conservador.

O discurso da cúpula, porém, é outro. ¿Nossa prioridade número um é eleger Temer. A de número dois é manter a aliança com o presidente Lula¿, diz o ex-ministro das Comunicações de Lula e deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE). Não é por acaso que o PMDB fala em parceria com Lula, não com o PT. Lula não será candidato e o PMDB não embarcará na candidatura do Planalto, a menos que se mostre viável.