Título: Não agiram sem o aval do regime brasileiro
Autor: Filho, Gabriel Manzano
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/11/2008, Nacional, p. A10

Autor não tem dúvida de que seqüestro de Lilian e Universindo foi um episódio, fracassado, da `Operação Condor¿

Por que lançar o livro só agora, passados 30 anos do episódio?

Quando comecei a escrevê-lo, há oito anos, muita gente que procurei se mostrava arredia. Senti que ainda não era o tempo. Nos últimos quatro anos o projeto pegou ritmo, as pessoas estavam mais abertas.

Qual o momento, durante aqueles meses do seqüestro, em que vocês sentiram mais medo?

Foi quando morreu uma testemunha, a escrivã do Dops Faustina Elenira. Havia um clima de intimidação. O governador e todo o comando militar do Estado foram ao velório. Um delegado, fonte de confiança, me avisou: ¿Luiz Cláudio, evite andar sozinho, principalmente à noite.¿

No apêndice sobre a Operação Condor você fala do papel do Brasil nessa aventura e até cita nomes novos. Como chegou a isso?

A Condor foi fundada pelo Pinochet em 1975. O Brasil entrou nessa história com um pé atrás. Na verdade o Geisel não queria misturar o ¿seu¿ SNI com o estilo mais truculento do ditador chileno. Mandou só dois homens à reunião de Santiago, com ordem expressa de não assinarem a ata de fundação. Eram o tenente-coronel Flávio Demarco e o major Thaumaturgo Sotero Vaz, que tinham combatido a guerrilha do Araguaia.

Você não tem dúvidas de que o seqüestro de Porto Alegre foi parte da Condor, não?

Diziam na época que tinha sido ¿uma estripulia¿ do pessoal de Montevidéu com policiais amigos de Porto Alegre. Não dá para imaginar que comandos militares uruguaios atravessem a fronteira e operem, caçando e torturando pessoas aqui. Não agiram sem o aval do regime brasileiro.

E por que essa operação, a Zapato Roto, não deu certo?

Porque aconteceram duas coisas inesperadas para os seus executores. Primeiro, que Lilian tinha dois filhos e isso complicou a operação para matá-la. Se fosse no Uruguai, e secreta, talvez os meninos, Camilo e Francesca, desaparecessem também. Segundo, a aparição da imprensa na história. Essas intromissões não existiam no Uruguai. Os dois lados ficaram sem saber o que fazer.