Título: Operação Satiagraha prendeu Dantas, Pitta e Naji Nahas
Autor: Warth, Anne; Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/11/2008, Nacional, p. A4

Deflagrada no dia 8 de julho, a Operação Satiagraha da Polícia Federal resultou na prisão do banqueiro Daniel Dantas, do especulador Naji Nahas, do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta (1997-2000) e de outros 14 acusados de corrupção, evasão de divisas, crime contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro.

A primeira ordem de prisão temporária partiu do juiz Fausto Martin de Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, especializada processo sobre crimes financeiros e do colarinho-branco. Ele acolheu pedido feito pelo delegado Protógenes Queiroz, que conduziu a investigação, e do procurador da República Rodrigo de Grandis.

No mesmo dia, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, atacou com duras críticas os métodos para a prisão dos acusados, condenando o uso de algemas e a exposição midiática. O defensor de Dantas, Nélio Machado, condenou o que chamava de prejulgamento.

No dia 10 de julho, um vaivém jurídico transformou a Satiagraha em um embate sem precedentes dentro do Judiciário. Mendes concedeu habeas corpus a Dantas, que foi solto, mas retornou à carceragem da PF dez horas depois, dessa vez com prisão preventiva por suborno decretada por Sanctis. O banqueiro teria oferecido R$ 1 milhão para corromper o delegado federal Vitor Hugo Rodrigues Alves Ferreira.

O presidente do Supremo reagiu com novo habeas corpus, colocando Dantas definitivamente em liberdade, e acusou Sanctis de "desobediência". Juízes lançaram manifesto em apoio ao magistrado.

Quase uma semana depois, no dia 16 de julho, o delegado Protógenes foi afastado da Satiagraha. Sua saída foi acertada numa reunião na superintendência da PF, em São Paulo após ele ter declarado à CPI dos Grampos que usou agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na operação.

No dia seguinte, Dantas virou réu em processo criminal por tentativa de suborno, em nova decisão de Sanctis.

Relatórios do Banco Central incluídos nos autos da Satiagraha demonstravam ainda que o Opportunity, banco do qual Dantas é sócio-fundador, não controlava suas operações corretamente e facilitaria a lavagem de dinheiro. A instituição negou que suas operações estivessem "sem freios".

Em meados de agosto, o STF editou uma súmula vinculante restringindo o uso de algemas em operações da polícia. Dantas, Nahas e Pitta tinham sido algemados antes de serem levados à carceragem.

Sanctis, por sua vez, também foi convocado à CPI dos Grampos, fato que considerou "sem cabimento". Enquanto isso, a defesa do grupo do banqueiro pedia a quebra de sigilo telefônico de Protógenes. Para admiradores, ele havia se tornado o "delegado da esperança".

Mendes, no entanto, qualificava a ação conjunta da Polícia Federal e Abin como "super-SNI", em referência ao Serviço Nacional de Informações, que atuou durante o regime militar.

No dia 22 de outubro, Dantas foi interrogado por Sanctis. Ele negou as acusações de suborno e disse ser vítima de "conspiração".