Título: Um novo presidente para um novo mundo
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/11/2008, Internacional, p. A16

A Europa vota em Barack Obama. Uma avalanche. O candidato democrata é um dos homens mais populares deste século. Em poucos meses, ele se transformou na esperança do mundo. Essa subida ao firmamento foi tão repentina, tão irracional, às vezes tão histérica, que somos incapazes de explicá-la de maneira lógica.

Algumas das armas que levaram à ascensão fulgurante de Obama são o seu charme, sua juventude, sua eloqüência. A cor da sua pele aumenta a sedução: o fato de um mestiço se sobressair num país tão agressivamente ¿branco¿ como os EUA marca uma fratura na história e uma oportunidade dada à ¿fraternidade humana¿.

Mas o principal trunfo de Obama é George W. Bush, ou melhor, Bush junto com McCain. Para completar, a indicação inacreditável de Sarah Palin foi saudada na Europa com uma enorme explosão de riso e um pouco de angústia.

Mas, à medida que as eleições se aproximam, algumas dúvidas estão surgindo, sobretudo entre os partidários mais ardentes de Obama. Em primeiro lugar, ele é belo, parece uma gravura. Em cena, é ágil e fala como um livro. Mas esse livro não diz muita coisa.

Sobre os grandes receios do presente - violência, Iraque, Afeganistão, armas de fogo, colapso da economia liberal - ele é lacônico. Claro que a cautela se justifica. Uma palavra equivocada e será ¿esmagado¿ pelos adversários. Sua prudência, seu silêncio, portanto, são compreensíveis. No entanto, ele exagera um pouco.

Outros alertam contra as esperanças desmedidas. E citam o artigo de John Vinocur, publicado no International Herald Tribune, para quem ¿os interesses, os encargos e os deveres são tão prementes que a margem de manobra de Obama pode ficar reduzida a nada. Queiramos ou não, Obama vai se ver obrigado a seguir a linha do seu predecessor.¿ Os admiradores europeus de Obama estão às vésperas de uma grande surpresa, conclui o jornalista americano.

A essa objeção há duas respostas. Em primeiro lugar, uma vitória de Obama trará automaticamente à tona um outro país, o do gênio, da invenção, da generosidade e da partilha, bem diferente dos EUA de Bush. Portanto, o primeiro efeito esperado de uma vitória de Obama será permitir que a Europa volte a amar os Estados Unidos - e os resultados disso serão assombrosos. Na verdade, se a diplomacia americana é tão grotesca há oito anos, é porque Bush conseguiu fazer o seu país ser odiado por uma grande parte do planeta.

Em segundo lugar, o mundo unipolar prenunciado com o colapso da União Soviética não vingou. A queda do Muro de Berlim não levou nem ao ¿fim da história¿, como esperava estupidamente o velho Bush, nem ao surgimento de um ¿mundo unilateral¿, inteiramente submisso aos EUA.

Assim, será em um mundo radicalmente inédito que o próximo presidente americano assumirá a Casa Branca. Um mundo caracterizado pelo aumento dos perigos e pelo começo do declínio americano.

Como escreveu o analista Bernard Guetta, ¿é por isso que não só os conservadores americanos, como Warren Buffet, maior fortuna dos EUA, como também os neoconservadores mais lúcidos, querem abertamente a vitória de Obama. É em razão do enfraquecimento relativo dos EUA que a eleição de terça-feira vai mudar completamente o jogo, principalmente se Obama for vitorioso.

*Gilles Lapouge é correspondente em Paris