Título: Analistas vêem pressão menor
Autor: Graner, Fabio; Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/11/2008, Economia, p. B4

Segundo eles, outubro foi o mês mais nervoso até agora

Leandro Modé

O fluxo cambial fortemente negativo em outubro já era esperado por analistas. ¿Quando olharmos em perspectiva, veremos que foi o pior mês da história mundial (do ponto de vista financeiro)¿, comentou o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale. Por isso, ele e outros analistas avaliam que o déficit de quase US$ 5 bilhões no mês passado foi um ponto fora da curva e não deve constituir-se em tendência.

¿Todas as barbaridades que vimos em outubro teriam mesmo de originar um número como este¿, disse o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. Alexandre Lintz, economista-chefe do banco BNP Paribas no Brasil, também acredita que outubro representou um ¿pico¿.

Os especialistas observam, no entanto, que não se deve esperar que o fluxo cambial volte a ser positivo, como na maioria dos últimos meses. Dos 10 meses de 2008 até agora, houve superávit em seis. ¿Ao menos até 2010, veremos muita volatilidade nesses dados¿, disse Vale.

O raciocínio dos analistas toma por base um mercado global ainda instável, que deve se caracterizar pela aversão ao risco. ¿A liquidez internacional está muito pior do que antes de a crise se aprofundar¿, observou o economista da MB.

EFEITO ELEIÇÃO

Além da turbulência externa, Vale lembra que as eleições de 2010 trarão incertezas em relação ao panorama doméstico. ¿O que vão propor o (José) Serra e a Dilma (Rousseff) em termos de política monetária?¿, indagou, referindo-se aos dois nomes que aparecem como favoritos do PSDB e do PT para disputar o Palácio do Planalto.

Os especialistas ressalvam que esse é o cenário base para suas análises. Ou seja, não se pode descartar totalmente uma nova piora da situação externa, que poderia contaminar mais duramente o fluxo cambial.

¿Em outubro, novembro do ano passado, muita gente dizia que o pior já tinha passado. O mesmo aconteceu este ano, em março, depois da crise do (banco) Bear Stearns¿, afirmou Lima Gonçalves. ¿É preciso ser muito corajoso para dizer isso.¿

De acordo com o economista, alguns fatores podem trazer pressão no futuro. O principal deles diz respeito à saúde da economia dos Estados Unidos, onde ¿a inadimplência vai subir, a renda vai cair e o mercado de trabalho vai piorar¿.