Título: Futuro presidente mudará foco sobre guerra e radicais
Autor: Marin, Denise Chrispim; Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/11/2008, Internacional, p. A12

O governo de Barack Obama pretende adotar uma estratégia regional para a guerra no Afeganistão, que incluiria, segundo seus assessores, negociações com o Irã e diálogo com integrantes moderados do Taleban. Especulações sobre a política externa de Obama ganharam força ontem, após o presidente eleito participar de uma cerimônia que lembrou o fim da 1ª Guerra e o Dia do Veterano.

A principal mudança de direção, segundo o jornal Washington Post, seria a intensificação da caçada a Osama bin Laden, prioridade que foi, de acordo com Obama, abandonada pelo presidente George W. Bush. Durante a campanha, ele criticou Bush por concentrar-se demais no Iraque, deixando o Afeganistão em segundo plano. Por isso, assessores do novo presidente cogitam da possibilidade de remanejar milhares de soldados para o front afegão.

O novo enfoque deve ser bem recebido por alguns oficiais do alto escalão do Exército, que defendem um rumo mais criativo e agressivo para um conflito que se agrava a cada dia. O número de ataques do Taleban e de vítimas americanas este ano foi o mais alto desde o início da guerra, em 2001.

Alguns funcionários do Departamento de Defesa estão preocupados com a abordagem de Obama, que consideram ¿ingênua¿. Fontes ligadas a Obama, porém, dizem que o diálogo com Teerã e o Taleban seria feito com algumas precondições: abandono da violência e obediência à Constituição afegã.

PRAGMATISMO

Alguns líderes militares se mostram cautelosos quanto à retirada de tropas do Iraque, que Obama pretende concluir em 16 meses, a partir da posse. O almirante Michael Mullen, chefe do Estado-Maior, por exemplo, diz que o cronograma de retirada é ¿perigoso¿.

Assessores de Obama argumentam que os esforços de guerra no Afeganistão foram dificultados por limitações no campo diplomático e ideológico, principalmente pelo compromisso irrealista de criar uma democracia moderna no Iraque e no Afeganistão, em vez de se concentrar em um objetivo mais pragmático, como consolidar nações estáveis que rejeitem o fundamentalismo islâmico.

Ninguém da equipe de Obama, porém, se manifesta publicamente, alegando que esta é uma fase delicada de transição presidencial. Os assessores do novo presidente não querem bater de frente com Bush, que só deixará o cargo em janeiro.

O jornal árabe Al-Hayat publicou ontem que antes da eleição conselheiros de Obama encontraram-se na Faixa de Gaza com Ahmed Youssef, assessor político do Hamas. O jornal afirmou ainda que, desde então, ambas as partes têm mantido contato.

¿Os assessores de Obama nos pediram para que não informássemos sobre a reunião para que o fato não fosse aproveitado pelo republicano John McCain¿, disse Youssef ao jornal.

O time de Obama não comentou o caso, mas Denis McDonough, conselheiro de política externa de Obama, foi obrigado a divulgar um comunicado ontem para negar que o presidente eleito tenha tomado uma decisão sobre o que fazer com os detentos da base de Guantánamo, em Cuba.

No entanto, McDonough afirmou que Obama continua favorável ao fechamento da prisão. ¿O presidente eleito disse que a estrutura legal de Guantánamo fracassou em processar terroristas de modo rápido e bem sucedido. Obama partilha da convicção de que Guantánamo deve ser fechada¿, disse McDonough.