Título: Situação do Brasil é razoável, declara Lula
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/11/2008, Economia, p. B5

É cada vez mais visível a queda do grau de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na imunidade da economia brasileira à crise financeira. Depois de dizer que o problema era do presidente dos Estados Unidos, George Bush, e que o ¿tsunami¿ chegaria ao País como uma ¿marolinha¿, ele declarou ontem que a situação do Brasil é ¿razoável¿ ante a crise e que há dificuldades para evitar os efeitos na vida da classe de renda mais baixa. ¿Não é tarefa fácil, porque num primeiro momento há a crise do medo e do pânico.¿

Em encontros ao longo do dia, com o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, sindicalistas e empresários, Lula demonstrou pessimismo até com a reunião do G-20, em Washington, no fim de semana. ¿Não temos um diagnóstico da crise e não espere muito dessa reunião, pois é só o começo, promissor, mas o começo¿, avisou em uma conferência organizada por centrais sindicais.

Mais tarde, em declaração à imprensa ao lado de Berlusconi, Lula explicou que é ¿impossível¿ esperar medidas de consenso em Washington contra a crise dos países, diante de ¿tantos problemas e divergências¿. Disse ainda que o presidente eleito dos EUA, Barack Obama, tem um ano para resolver a crise e evitar desgastes políticos.

Pela manhã, sob aplausos de uma platéia de 1.200 sindicalistas, avaliou que não é possível ter conclusões sobre o futuro econômico dos países. Disse que governantes e organizações trabalhistas devem apresentar propostas urgentes. ¿Essa crise ainda não nos permite conhecer todos os males que vem causar à humanidade; a cada dia aparece uma novidade, a cada dia aparece um buraco.¿

Tratado como estrela da conferência sindical, Lula recebeu charutos de Toscana e ouviu sindicalistas contarem a história de vida dele. Em todos os discursos, Lula repetia como um mantra que os governantes não podem deixar de investir. A falta de dinheiro para irrigar a economia ¿seria o caos¿.

Cauteloso nas avaliações sobre a economia brasileira, Lula não economizou frases de efeito e dramaticidade ao analisar os efeitos da crise. ¿A crise que começou no setor financeiro já está contaminando a economia real, afetando conquistas dos trabalhadores, como o corte de salários e o desemprego¿, disse. ¿Estamos contemplando a face mais perversa da globalização: empresas despedem trabalhadores em todo o mundo, por causa de uma crise causada pela ganância, especulação e anarquia de um mercado sem controle.¿

Berlusconi disse que ¿a tarefa é evitar o pânico e divulgar mais serenidade¿. Segundo ele, a crise e o pessimismo são criações da opinião pública.