Título: Protógenes vê operação casada para desmoralizá-lo
Autor: Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2008, Nacional, p. A4

Para delegado, buscas em sua casa fazem parte de ofensiva para enfraquecê-lo e beneficiar Daniel Dantas

Vannildo Mendes, BRASÍLIA

O delegado Protógenes Queiroz afirmou ontem que as buscas da Polícia Federal em sua residência e a confirmação do habeas corpus do Supremo Tribunal Federal (STF) em favor do banqueiro Daniel Dantas fazem parte de uma "operação casada", uma "patranha", envolvendo a cúpula das duas instituições para desmoralizá-lo.

O objetivo final da manobra, segundo ele, é beneficiar o empresário, preso em julho na Operação Satiagraha. "As buscas me enfraquecem e mostram o poder extremo a que chegou esse bandido e sua penetração nas altas esferas do poder", disse.

Na quarta-feira, a PF fez apreensões, com ordem judicial assinada pelo juiz Ali Mazloum, da 7ª Vara Criminal de São Paulo, em vários endereços ligados ao delegado. No dia seguinte, o STF, por 9 votos a 1, validou o habeas corpus concedido pelo ministro Gilmar Mendes para libertar Daniel Dantas. Apontado pela PF como cabeça da organização criminosa desarticulada pela Satiagraha, o banqueiro fora preso com outros 16 acusados de envolvimento em corrupção, fraudes financeiras e sonegação.

"É uma ação articulada para cumprir o script determinado pelo banqueiro bandido e evitar que ele abra a boca e conte tudo que sabe", explicou Protógenes, para quem Dantas é um arquivo vivo da corrupção.

Em palestra de mais de três horas para um auditório quase vazio, promovida por mestrandos de Direito da Universidade Católica de Brasília, Protógenes descarregou crítica ácidas à cúpula da Justiça e da PF. Acusou-as de promover "perseguição brutal" contra ele, para enfraquecer a investigação da Satiagraha e garantir impunidade ao banqueiro.

O delegado defendeu o juiz federal paulista Fausto De Sanctis, que determinou as prisões - revogadas depois pelo STF. No fim deste mês, De Sanctis julga os indiciados por envolvimento na quadrilha.

Para o delegado, o juiz é vítima do mesmo processo de desqualificação, para afastá-lo do julgamento. "Esta não é uma luta do Protógenes, é do Brasil e da sociedade", disse. "O País sai desmoralizado se o bandido Daniel Dantas não for condenado."

ROLO COMPRESSOR

Segundo ele, o banqueiro não tem como sair livre do julgamento, marcado para o dia 21. "Ele será condenado e preso, se forças nefastas não afastarem o juiz." Ele garante que De Sanctis resistirá. "Querem passar um rolo compressor no Judiciário, como passaram na PF, mas não vão conseguir."

Para Protógenes, houve um "pacto de silêncio" entre setores que deveriam se manifestar contra os abusos de que se considera vítima. Informou que está levantando arbitrariedades para mover representações contra os agressores, sejam da polícia ou da Justiça, em todos os foros jurídicos e administrativos cabíveis. Por fim, avisou que estará de volta ao trabalho no dia 26, quando termina a licença para o curso que está fazendo, e prometeu retomar a luta contra a corrupção até "pôr o bandido e corrupto Daniel Dantas" atrás das grades. "Me aguardem, eu não vou me acovardar agora."