Título: Na internet, fichas dos militantes
Autor: Recondo, Felipe
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/11/2008, Nacional, p. A16

Material vai para a rede em 2009

Roldão Arruda, SÃO PAULO

Instalado no edifício de uma antiga fábrica de tapetes no bairro de Santana, na zona norte, o Arquivo Público de São Paulo abriga provas assombrosas de como os Estados autoritários temem e vigiam seus cidadãos. Se todos os prontuários ali guardados - a maioria deles provenientes dos anos da ditadura militar - fossem postos um sobre o outro, a pilha teria a altura de 1 quilômetro. Nos seus velhos arquivos de aço, herdados do antigo Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops), repousam 1,1 milhão de fichas com informações sobre a vida de pessoas que o regime considerava subversivas. Uma delas contém a história de um rapaz que um dia se enrolou na bandeira brasileira e pediu para ser fotografado por outro rapaz, seu amigo. Os dois foram enquadrados num inquérito, com base na Lei de Segurança Nacional.

Tudo na antiga fábrica impressiona. A novidade é que, a partir do início do ano que vem, esse material poderá ser consultado pela internet.

Ontem, uma equipe de 24 pessoas, entre estudantes de história e digitadores, começou a alimentar os bancos de dados dos computadores da instituição com as principais informações do arquivo. Quando elas forem postas na internet, qualquer pessoa poderá saber se foi fichada. Também poderá investigar os temas que mais preocupavam a polícia política: sindicatos, imprensa, partidos, organizações de esquerda, greves, comícios.

Para isso deverá entrar no site do Arquivo Público e ali fazer um link com o banco de dados chamado Memórias Reveladas: um ambicioso projeto do governo federal destinado a reunir informações de todo o País sobre os anos da ditadura militar, entre 1964 e 1985. No momento estão sendo integrados 28 arquivos, distribuídos por 12 Estados. Ao lado do arquivo paulista estão, entre outros, o do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI).

"Será uma revolução na área de pesquisas sobre lutas políticas", diz a historiadora Larissa Rosa Corrêa, responsável pela implantação do projeto Memórias Reveladas em São Paulo. "Com alguns cliques será possível saber o que existe em diferentes partes do País sobre os assuntos ou pessoas pesquisadas."

Em sua primeira etapa, o projeto prevê apenas a inclusão das informações básicas. Mais tarde, todo o material das pastas de prontuários também ficará disponível. Será possível saber, por exemplo, como os policiais da ditadura de Getúlio Vargas vigiavam os japoneses do interior de São Paulo durante o período da 2ª Guerra Mundial.