Título: País tem o maior programa de energia limpa
Autor: Escobar,Herton
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/11/2008, Vida, p. A25

Cadeia produtiva do etanol tem potencial para virar sorvedouro de carbono, diz especialista da indústria

Herton Escobar

A tecnologia Flex Fuel, que permite usar álcool ou gasolina no mesmo motor, foi lançada no mercado automotivo brasileiro em março de 2003. Rapidamente, a tecnologia ganhou a preferência dos consumidores e da indústria, de modo que, hoje, 25% da frota circulante e 70% dos veículos que saem das montadoras no País são do tipo flex, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

A produção de álcool combustível (etanol) avançou no vácuo dos motores, pulando de 14,8 bilhões de litros na safra de cana 2004 para 22,4 bilhões de litros, na safra 2008, segundo estatísticas da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). Na próxima colheita, a expectativa é produzir 27 bilhões de litros de etanol, o que proporcionaria uma economia de 53 milhões de toneladas de CO2 em emissões evitadas, comparado ao que seria emitido com o uso de gasolina. É mais ou menos o que a Suécia emite em um ano, segundo dados oficiais das Nações Unidas.

A conta inclui tanto o álcool anidro (puro) quanto o hidratado, que é misturado à gasolina - diferentemente da conta de 42,5 milhões de toneladas, que inclui só o combustível usado em motores flex.

"Nenhum país do mundo tem um programa de energia renovável da dimensão do nosso", diz o consultor de emissões e tecnologia da Unica, Alfred Szwarc, responsável pelo "carbonômetro", uma ferramenta do site www.etanolverde.com.br que mostra quanto CO2 está sendo economizado com o uso da tecnologia Flex Fuel. "Os Estados Unidos consomem mais álcool do que o Brasil, mas isso não passa de 3% da matriz energética americana", diz.

No Brasil, a cana-de-açúcar já supre 16% das necessidades energéticas do País, segundo Szwarc. "Estamos descarbonizando o nosso setor de transportes."

O etanol é um combustível chamado "renovável" porque o CO2 que ele emite é reabsorvido pelas lavouras de cana que estão crescendo no campo (veja gráfico na página ao lado). Apenas uma pequena parte - cerca de 3% - fica na atmosfera. Segundo Swarc, a cadeia do álcool só não é 100% renovável por causa do CO2 emitido pelo diesel que é usado para movimentar as máquinas agrícolas e os caminhões que transportam o etanol para distribuição.

Com a substituição desse diesel por biodiesel ou outras formas de transporte menos poluentes, é possível que o setor se torne até um sorvedor de carbono. "Em cinco anos, acho que esse porcentual que fica na atmosfera já deixará de existir", diz Swarc. "Vamos ter um sistema que absorve mais CO2 do que emite."

Szwarc lembra ainda que o etanol tem outras vantagens ambientais. A fumaça produzida pela combustão do álcool é bem menos tóxica do que a dos derivados de petróleo. Por exemplo, contém pouquíssimo enxofre e nenhum benzeno.