Título: Lula quer G-20 na solução da crise
Autor: Otta, Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/11/2008, Economia, p. B1

Lu Aiko Otta e Fernando Nakagawa

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem que os países ajam de forma conjunta para reforçar a regulação sobre os mercados, mas frisou que os emergentes e as nações em desenvolvimento devem participar da solução. "É amplamente reconhecido que o G-7 (grupo dos países ricos) sozinho não tem mais condição de conduzir os assuntos econômicos do mundo", disse, no discurso de abertura da reunião do G-20, em São Paulo.

Um mês depois de afirmar que o Brasil sentiria apenas uma "marolinha" em decorrência das turbulências no mercado financeiro, ele reconheceu que "nenhum país está a salvo da crise".

Os países emergentes e em desenvolvimento têm sofrido as conseqüências da crise na forma de menos crédito e menos comércio. "Não podemos permitir que o pânico que se instalou em muitos lugares atinja os setores produtivos", afirmou Lula.

Num discurso duro proferido diante de uma platéia composta por ministros de finanças e presidentes de bancos centrais das principais economias do mundo, ele acusou diretamente os países ricos de terem agido com "irresponsabilidade" ao permitir que o mercado financeiro operasse em "desordem", baseado numa "crença cega na capacidade de auto-regulação dos mercados".

Na reunião do G-20, o Brasil defende a reforma dos organismos econômicos multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, para desconcentrar o poder, hoje nas mãos dos países desenvolvidos. O encontro é preparatório para a reunião de chefes de Estado do G-20, marcado para os dias 14 e 15 de novembro, em Washington.

Um limite, porém, às ambições brasileiras de fazer do G-20 um dos fios condutores da reforma financeira internacional é que o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, deu sinais de que não pretende prestigiar a reunião de Washington.

O discurso de Lula vem na esteira de intensas discussões, envolvendo principalmente os países europeus e o Brasil, sobre o redesenho da chamada arquitetura financeira internacional - o conjunto de instituições multilaterais, que inclui, além do FMI e do Banco Mundial, o Banco para Compensações Internacionais (BIS).

O G-20 é um grupo de discussão econômica e financeira de âmbito ministerial criado em 1999. Ganhou importância ao ser convocado extraordinariamente em outubro pelo presidente dos EUA, George W. Bush, para debater a crise.