Título: Putin ensaia volta à presidência russa com mandato de 12 anos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/11/2008, Internacional, p. A18

O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, poderá voltar à presidência no ano que vem, revelou ontem uma fonte não identificada próxima ao Kremlin, citada pelo jornal Vedomosi, de Moscou. A notícia foi desmentida pelo porta-voz de Putin, mas coincide com o plano anunciado na quarta-feira pelo atual presidente russo, Dmitri Medvedev, de ampliar o mandato presidencial de 4 para 6 anos, o que, somado à possibilidade de reeleição, daria a Putin um governo ininterrupto de 12 anos.

Segundo o jornal, ¿Medvedev poderia renunciar antes do fim do seu mandato convocando mudanças constitucionais para que as eleições presidenciais pudessem acontecer em 2009¿, favorecendo Putin.

Antes de renunciar, porém, Medvedev concentraria esforços na aprovação de uma impopular reforma social e na mudança da Constituição, prevendo a ampliação de mais dois anos no mandato de seu sucessor.

¿Essas são apenas ponderações do jornal e a reportagem não tem nenhum fundamento¿, disse o porta-voz de Putin, Dmitry Peskov. ¿O presidente da Federação Russa é Dmitri Medvedev, que foi eleito para um período concreto no governo.¿

Vladimir Putin foi um dos presidentes russos de maior popularidade, mas teve de deixar o governo depois de exercer o seu segundo mandato consecutivo, de acordo com a lei local.

A proposta de ampliação do mandato presidencial foi lançada ontem, no primeiro pronunciamento à nação feito pelo presidente Medvedev desde que assumiu o mandato, há seis meses. No discurso, que durou 90 minutos e foi transmitido por rádios e televisões russas para todo o país, Medvedev também anunciou planos de instalação de uma base de mísseis de médio alcance no território do Kaliningrado, na fronteira com a Polônia, região da costa do Mar Báltico.

A medida - anunciada na manhã seguinte ao anúncio dos resultados da eleição que consagrou o democrata Barack Obama como novo presidente dos EUA - foi uma resposta aos planos americanos de construir um escudo antimísseis no Leste Europeu e deu sinais de que a Rússia não pretende amenizar o discurso de enfrentamento contra o Ocidente, mesmo depois que o republicano George W. Bush deixe o poder.

VENEZUELA

Medvedev assinará no fim de novembro um amplo acordo de cooperação com o presidente venezuelano, Hugo Chávez, que inclui 46 projetos nas áreas energética, industrial e financeira. Os termos do texto começaram a ser discutidos ontem, em Caracas, entre representantes de ambos os governos. O vice-primeiro-ministro russo, Igor Sechin, classificou as relações entre Rússia e Venezuela como ¿uma sociedade estratégica¿.