Título: O Copom realista diante das incertezas
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/11/2008, Economia, p. B2
A Ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) dos dias 28 e 29 de outubro mostra que as autoridades monetárias, mesmo não vendo razões para acreditar em reversão das tendências inflacionárias, se sensibilizaram pela perspectiva de deterioração da conjuntura econômica. Por isso optaram por manter a taxa Selic em 13,75%.
A ata reconhece que ¿a projeção para a inflação em 2008 se elevou em relação ao valor considerado na reunião de setembro¿ - o que, até pouco tempo, justificaria uma decisão de aumentar a taxa Selic - e continua a destacar o descompasso importante entre os ritmos de expansão da demanda e da oferta. No entanto, leva em conta que a escassez de crédito desempenha a função de elevar a taxa de juros. A ata nota, também, que o dinamismo da atividade passa a depender, crescentemente, da expansão da massa salarial real e dos efeitos das transferências governamentais.
É interessante que os membros do Copom, que são os diretores do Banco Central, não tenham levado em conta que as políticas de combate à recessão - travado não somente nos países industrializados, mas também no Brasil -, têm como efeito o forte aumento da base monetária e tendem a favorecer a retomada da oferta do crédito, seja para as atividades empresariais, seja para as pessoas físicas. As últimas medidas de apoio ao setor da indústria automobilística dão uma boa ilustração desse processo. É importante observar que, por outro lado, a decisão do governo de reduzir as despesas orçamentárias pode ter um efeito de contenção do excesso de demanda.
É possível que o Copom, sem o reconhecer, tivesse imaginado que a redução dos investimentos pelas empresas privadas resultará numa redução dos reajustes de salários, embora aumente o descasamento entre a oferta e a demanda em certos casos.
A Ata do Copom é muito discreta em relação aos efeitos da desvalorização cambial sobre os preços, que são principalmente dois: impede que se recorra a importações, nos setores em que a oferta doméstica é insuficiente, e aumenta o custo de produção dos bens com uma grande proporção de componentes importados.
A leitura da ata dá a impressão de que a grande dose de incerteza sobre os desdobramentos do novo quadro da economia levou os membros do Copom a não adotarem nenhuma medida que tivesse por conseqüência aumentar as perspectivas de recessão, sem impedir a alta de preços.