Título: Investimentos estão ameaçados no 4º trimestre
Autor: Violante, Claudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/11/2008, Economia, p. B3

Volume de dinheiro em caixa da estatal é o menor desde 2000

Nicola Pamplona e Tatiana Freitas

A Petrobrás iniciou o último trimestre de 2008 com o menor volume de recursos em caixa desde o fim de 2000, situação que pode comprometer a realização dos investimentos previstos para o fim do ano. Em 30 de setembro, a companhia tinha R$ 10,776 bilhões em caixa, valor 2% menor do que o do fim do 2º trimestre e 61,2% abaixo da melhor posição alcançada nos últimos anos: R$ 27,829 bilhões no fim de 2006.

Segundo especialistas, a posição de caixa não cria problemas de solvência para a companhia, que tem recursos suficientes para honrar os compromissos já assumidos. Mas, por outro lado, pode tornar mais difícil a travessia de um período complicado para a economia mundial. A companhia pretende investir R$ 16 bilhões no quarto trimestre e as projeções apontam para uma geração de caixa inferior aos R$ 15,680 bilhões verificados no trimestre anterior.

Ou seja, se quiser manter o plano de investimentos, a Petrobrás terá de reduzir ainda mais seu caixa. Em conferência com analistas do mercado, o diretor financeiro da companhia, Almir Barbassa, afirmou que a empresa pretende voltar ao mercado assim que as condições permitirem. Este ano, antes da crise, a empresa captou US$ 9,2 bilhões, incluindo negociações com bancos e operações no mercado de capitais.

¿Gostaríamos de estar mais presentes no mercado de capitais, mas ele inexiste neste momento. Ele deve voltar a funcionar, mesmo que seja em outro patamar, e estaremos presentes neste momento¿, afirmou Barbassa. ¿Acredito que a gente tenha condições de captar entre US$ 5 bilhões e US$ 10 bilhões para os investimentos do próximo ano, considerando todas as fontes¿, comentou o executivo. Para 2009, a previsão é investir cerca de R$ 50 bilhões, mesmo volume projetado para este ano.

¿As estimativas para os resultados nos próximos exercícios são de diminuições expressivas na receita, geração de caixa e lucro líquido, tendo em vista as expectativas de manutenção dos atuais níveis de preços do petróleo¿, afirmou, em relatório, o analista Nelson Rodrigues de Mattos, do Banco do Brasil Investimentos.

A companhia, porém, pode atenuar os efeitos da queda das cotações do petróleo se mantiver os preços da gasolina e do diesel nos níveis atuais. Os dois combustíveis, que representam 40% da receita da companhia, têm seu valor baseado em um petróleo em torno dos US$ 110 por barril. Ontem, o barril fechou em US$ 56,16.

Nas contas de Mattos, o preço do diesel no Brasil está 6% acima da cotação internacional. No caso da gasolina, a diferença chega a 13%. O mercado espera que a companhia segure os preços agora, para tentar recuperar parte das perdas acumuladas com a manutenção dos valores desde abril, data do último reajuste.

A área de refino da Petrobrás acumula prejuízo de R$ 2,586 bilhões em 2008 - ante lucro de R$ 5,683 bilhões no mesmo período do ano anterior.