Título: Executivos mostram o rumo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/11/2008, Notas & Informações, p. A3

Reunidos em Istambul, 47 executivos dos maiores grupos industriais com sede em 18 países da Europa cobraram dos governos maior ousadia e mais urgência na execução de políticas de combate à crise. As condições econômicas pioram rapidamente, segundo eles, e é preciso ir além das medidas propostas pelos chefes de governo do Grupo dos 20 (G-20) no último fim de semana, em Washington. Eles aprovaram essas propostas, mas apresentaram uma agenda mais detalhada e mais precisa para o combate à recessão, que já atinge várias grandes economias, e ao ¿crescente risco de deflação¿.

A pauta apresentada pelos 47 executivos exclui explicitamente políticas destinadas a subsidiar setores ou companhias em dificuldades. É um contraponto importante à discussão sobre a ajuda à indústria automobilística nos Estados Unidos e na Alemanha. O governo americano tem rejeitado os apelos para socorrer a General Motors e quaisquer outras grandes fabricantes de automóveis. Mas o debate continua aberto e, se nenhuma ajuda for decidida até o fim do ano, uma enorme pressão será exercida sobre o próximo presidente.

No Brasil, grande parte das ações anticrise continua voltada para a solução de problemas setoriais - da indústria automobilística, da construção civil e agora, segundo se anuncia, de fornecedores de equipamentos para usinas de açúcar e álcool. Pode haver bons argumentos a favor de cada uma dessas ações. Todos esses setores são importantes por mais de uma razão, mas outras áreas da economia também são relevantes e uma política de pronto-socorro pode custar muito e produzir muito menos resultados do que seria possível com o mesmo dinheiro.

Foco nas iniciativas é um dos pontos valorizados pelos 47 executivos. O maior desafio presente, segundo eles, é a oferta de crédito, e por isso os bancos centrais devem cortar os juros - onde ainda houver espaço para isso, é claro - rapidamente e com grandes avanços de cada vez. Também é preciso ampliar os estímulos fiscais, especialmente na maior economia da Europa, a Alemanha. O Pacto de Crescimento e Estabilidade da União Européia, lembram os autores da proposta, permite a ampliação dos déficits orçamentários em tempos de crise.

Mas alguns estímulos, lembram os dirigentes das grandes indústrias, são melhores que outros, porque são mais favoráveis ao crescimento sustentável. Não se trata de gastar em qualquer coisa ou de subsidiar setores em apuros. ¿Preferimos cortes no Imposto de Renda, investimentos na infra-estrutura e também relacionados ao combate à mudança climática e gastos com pesquisa e educação¿, explicaram.

As injeções de capital nos bancos são necessárias, nesse momento, mas é preciso encarar medidas desse tipo como temporárias, acrescentaram. Tão logo seja possível, os governos devem recuar dessa intervenção.

A agenda é concluída com um apelo a favor da liberalização comercial e da resistência à ampliação de barreiras. ¿Apoiamos fortemente a intenção do G-20 de combater o protecionismo e de concluir a Rodada Doha de negociações comerciais. Mas é imperativo levar essa promessa além das palavras. Nós instamos sinceramente os ministros de Comércio, de Finanças - e não menos os de Agricultura - a levar a sério a declaração de seus líderes e a passar rapidamente das palavras à ação.¿ No final, há uma advertência contra a excessiva regulação da economia.

Qualquer governo disposto a aplicar uma política de amplo alcance, destinada a reativar a economia e não a eleger perdedores e ganhadores, poderia incluir essas propostas em sua agenda. Partiram, no entanto, não de economistas acadêmicos ou de partidos, mas de executivos congregados no Fórum Europeu de Industriais (European Roundtable of Industrialists, ERT), formado por altos dirigentes de empresas como Siemens, Nestlé, Nokia, Saint-Gobain, Unilever, Fiat, Basf, Royal Dutch Shell, Rio Tinto e British Petroleum.

Essas 47 multinacionais movimentam 1,6 trilhão por ano e empregam cerca de 4,5 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo informação do site da ERT. Uma organização desse tipo, embora informal, dispõe obviamente de uma capacidade enorme de influenciar políticas. Na reunião de Istambul, esse fórum serviu de tribuna para uma proclamação a favor de políticas saudáveis, potencialmente muito eficazes e de interesse de todo o mundo, não só de grandes multinacionais.