Título: Missão, a mais cara da PF, teve custo de R$ 466 mil
Autor: Macedo,Fausto ; Warth, Anne
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/11/2008, Nacional, p. A4

Relatório mostra ainda que nenhuma outra operação teve tantos agentes e desmonta versão de Protógenes

Fausto Macedo e Vannildo Mendes

Satiagraha, a mais controversa operação da Polícia Federal, custou R$ 466 mil aos cofres públicos, segundo revela documento confidencial que a instituição encaminhou ao Congresso.

O relatório, produzido pela Diretoria de Combate ao Crime Organizado, mostra que nenhuma outra missão de grande envergadura da PF teve custo tão elevado e nenhuma mobilizou tantos agentes e delegados na fase de apuração e na de execução - quando são cumpridos os mandados judiciais de buscas e prisões.

A informação, que tem caráter oficial e foi disponibilizada a deputados e senadores, desmonta versão do delegado Protógenes Queiroz, mentor da Satiagraha. Em ofício à Procuradoria da República, entregue em julho e logo depois de ser afastado do caso, Protógenes acusou superiores de boicotarem a missão contra o banqueiro Daniel Dantas.

A denúncia do delegado levou o Ministério Público Federal a abrir procedimento que visa a identificar o montante que a PF empregou na Satiagraha e o efetivo recrutado.

O documento mostra que na primeira etapa da Satiagraha, a de investigação coberta pelo sigilo, foram investidos R$ 288 mil. A fase derradeira, desencadeada a 8 de julho, consumiu mais R$ 178 mil, valor relativo ao deslocamento de 300 policiais para cumprimento de 56 mandados de buscas e 24 prisões.

A planilha foi montada a partir de informações cedidas pelas superintendências regionais, diretoria de Inteligência e diretoria Executiva da PF.

Nela são comparados os dados da Satiagraha com os de outras 32 operações deflagradas entre março de 2007 e julho de 2008. Os gastos com essas 32 missões somam R$ 1,2 milhão. Satiagraha sozinha custou o equivalente a um terço desse total.

Todos os gastos da PF com as operações são comunicados ao Ministério da Justiça e passam pelo crivo do Tribunal de Contas da União e da Controladoria-Geral da União.

O relatório comparativo confirma que Satiagraha foi a operação mais dispendiosa da PF, embora não tenha sido a maior em volume de prisões e apreensões. Um mês antes da prisão de Dantas, a PF saiu às ruas para uma outra ação com 231 mandados de buscas em Brasília e em Minas envolvendo deputados e prefeitos acusados de corrupção. Esse trabalho, que incluiu blitz na Câmara, custou R$ 32 mil à corporação, ou R$ 434 mil a menos que Satiagraha.

Duas operações de grande repercussão, porque os alvos preferenciais eram magistrados de segunda instância e até ministro, somaram despesas de R$ 479 mil - desembolso para os dois casos juntos -, nos meses de abril e maio de 2007, com 154 mandados de buscas.

Satiagraha acionou, em caráter permanente, 11 policiais federais em sua primeira etapa, apenas para checagem de dados e identificação dos alvos. Esse efetivo atuou com dedicação exclusiva ao caso, do início ao fim - ao passo que a média de agentes convocados em outras missões chega a 6.

Apesar disso, Protógenes recorreu à Agência Brasileira de Inteligência (Abin).