Título: Para eleito, partidos têm donos
Autor: Moraes, Marcelo de
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/11/2008, Nacional, p. A4

O vereador de Curitiba Leonardo Kuzma (PSB), à época no PPS , foi o primeiro a ser cassado no Paraná após a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em março de 2007, sobre a infidelidade partidária. Afastado da Câmara desde agosto deste ano, ele voltará a partir de janeiro de 2009, já que conseguiu novo mandato nas urnas. O curioso é que sua votação mais que dobrou em relação à primeira legislatura. Empossado em 2004, com 3.199 votos, desta vez obteve 7.298. O parlamentar, conhecido como Tico Kuzma, diz que respeita a decisão da Justiça que o retirou do páreo, mas considera que a legislação sobre o assunto deveria sofrer, também, mudanças.

¿O mandato pertence ao partido, isso é ponto pacífico, mas os partidos muitas vezes têm verdadeiros donos, que fazem o que querem. O poder dessas pessoas dentro das agremiações é enorme¿, afirmou. Em sua opinião, a fidelidade partidária deve ser uma via de duas mãos. ¿Saí do PPS por justa causa. O partido passou a apoiar as legendas que sempre combateu, mas a Justiça não aceitou minhas ponderações.¿

MUDANÇA RADICAL

Também vereador em Dolcinópolis (SP), Claudio Brussolo foi de um extremo ao outro do arco ideológico ao ser cassado. Ele era do PT, mas acabou se filiando ao DEM, o que o levou à perda do mandato. Apesar disso, permaneceu na Câmara e foi novamente eleito, como o segundo mais votado, com 137 votos.

¿Há apenas mais duas sessões até o fim deste mandato. Se eu sair da Câmara, não haverá um vereador do PT para me substituir, só um do PMDB, já que o partido do presidente não tem outro parlamentar na cidade¿, afirmou.

No DEM, Brussolo também não está contente. Seu sonho, por estranho que possa parecer, é voltar ao PT. ¿Mas quero presidir o partido. Quando fui vereador, nunca fui procurado pela direção municipal, nem recebi apoio algum. Quero mudar isso¿, disse. Ele promete tomar cuidado para não ser punido novamente.

José Barbosa Júnior, o Juninho Barbosa, desfiliado do PPS e hoje no PDT de Boituva (SP), também foi atingido pela decisão do TSE, mas, a exemplo de Brussolo, não teve de se afastar do cargo. Voltou, reeleito com 1.417 votos, como o primeiro colocado em votação. Barbosa jura que concorda com a punição por infidelidade, mas não com a mudança de regra depois que os vereadores já tinham trocado de partido. Em sua opinião, deveria haver uma data-limite para as trocas de legenda. ¿Acho que não se deve mudar as regras do jogo durante a partida¿, argumentou.