Título: Obama faz o mundo respirar aliviado
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/11/2008, Internacional, p. A16

A crise financeira tem monopolizado a agenda do presidente eleito dos EUA, Barack Obama, mas o novo chefe da Casa Branca terá de responder também a outra ameaça: o meio ambiente. Ambientalistas e políticos esperam que Obama promova uma virada de 180 graus na política americana, aderindo aos instrumentos internacionais de corte de emissões e concluindo, até o final de 2009, um novo acordo global sobre mudanças climáticas.

No entanto, mesmo que Obama promova uma reviravolta na diplomacia ambiental americana, os anos perdidos pelo presidente George W. Bush já impedem que os EUA atinjam a meta de redução de emissões de gás carbônico estabelecida no final dos anos 90. E esse não é o único argumento dos pessimistas. Os planos de Obama falam sobre cortes inferiores ao que os acordos internacionais prevêem.

Aos olhos da diplomacia européia e de ativistas, porém, a eleição de Obama representa pelo menos um novo começo nas políticas ambientais e a chance de voltar a debater o assunto. A esperança de mudança cresceu com as declarações de Obama, em seu primeiro discurso após ser eleito, em 4 de novembro, quando qualificou o aquecimento global de ¿ameaça imediata¿.

Obama também deixou os ambientalistas aliviados ao reconhecer que a atividade humana tem impacto sobre o meio ambiente e não há mais como negar as mudanças climáticas - diferentemente de Bush, que não acreditava no aquecimento global.

Um primeiro teste para Obama ocorrerá antes mesmo da posse. Em duas semanas, o mundo volta a se reunir na Conferência sobre Mudanças Climáticas, na Polônia, com o objetivo de avançar no acordo sobre redução global das emissões de gás carbônico. O governo americano ainda será representado por membros do governo Bush. Todos os olhos, contudo, estarão voltados para os enviados de Obama. Para os europeus, a eleição de Obama é o que muitos esperavam para poder conseguir levar o acordo adiante.

Obama defende um mecanismo de corte de emissões nos moldes do que hoje é aplicado na Europa, no qual há um limite de poluição para cada empresa. Quem passa do teto, paga. Os que ficam abaixo, podem vender seus ¿direitos de poluir¿ não utilizados.

De forma geral, Obama deseja reduzir, até 2020, as emissões americanas aos mesmos níveis existentes em 1990. A ambição, porém, é bem menor do que prevê o Protocolo de Kyoto e o projeto ambiental europeu. Isso porque a primeira fase do plano de Obama se refere à mudança da matriz tecnológica, o que levaria anos. Apenas em 2050 os EUA teriam níveis de emissões 80% abaixo das taxas de 1990 - 60 anos depois do esperado.

NEW DEAL

Entusiasmado com a eleição de Obama, o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, pede que Bruxelas e Washington estabeleçam uma espécie de New Deal para solucionar alguns dos maiores problemas mundiais.

¿Esperamos chegar a uma nova e ambiciosa agenda. Queremos superar a crise financeira e lutar contra o aquecimento global¿, disse Barroso. Menos comedido, o diretor-executivo do Greenpeace, John Sauven, critica Bush. ¿É um grande alívio que a era Bush esteja perto do fim. Perdemos anos preciosos diante de um governo cientifica e moralmente analfabeto.¿