Título: O impacto da crise
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/11/2008, Notas & Informações, p. A3
A brusca freada em outubro na contratação de mão-de-obra formal pelas empresas brasileiras é um sinal claro da rapidez com que a crise alcançou o setor produtivo, a economia real. Ao longo do ano, o número de postos de trabalho com carteira assinada criados a cada mês superou 200 mil - com exceção de janeiro, um mês tradicionalmente fraco para o mercado de trabalho, quando foram criados 142,9 mil empregos. Desde julho, o número de contratações crescia, tendo atingido 282,8 mil novos empregos em setembro. Em outubro, porém, foram apenas 61,4 mil novos postos de trabalho no mercado formal, pouco mais de um quarto da média mensal até setembro. É o pior resultado para o mês de outubro desde 2002.
São dados oficiais do Ministério do Trabalho e Emprego, extraídos do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). No período natalino, o comércio contrata mão-de-obra para atender ao crescimento das vendas. Foi esse fator sazonal que assegurou boa parte do aumento do emprego formal no mês passado, quando o comércio abriu 54,6 mil postos de trabalho. Embora tenha desempenhado papel muito importante na geração de empregos em outubro, o comércio está tendo, neste ano, um desempenho bem mais fraco do que em outubro do ano passado, quando gerou 63,8 mil postos de trabalho. A queda foi de 14%.
Muito mais acentuado é o impacto da crise no emprego industrial. A indústria de transformação registrou, em outubro, o pior resultado para esse mês desde 1999, o ano mais distante para o qual há dados disponíveis do Caged. Nos últimos nove anos, convém ressaltar, a economia brasileira passou por dificuldades, como o ¿apagão¿ elétrico e a crise de confiança gerada pelo crescimento do candidato do PT nas pesquisas eleitorais de 2002 e que teve conseqüências mais sérias em 2003.
No mês passado foram criados apenas 8,7 mil empregos na indústria de transformação, 85,5% a menos do que o total de contratações do setor em outubro de 2007, de 60 mil empregados. Isso deixa claro que é no mercado de trabalho que se manifesta de maneira mais evidente a preocupação do empresariado com a crise.
A crise afetou inicialmente o setor financeiro. Houve quem acreditasse que ficaria confinada a ele e aos países industrializados. Muito mais depressa do que se podia prever, porém, ela estendeu seus efeitos para a economia real e para todos os países, inclusive os emergentes, como o Brasil, que muitos imaginavam imunes a ela.
Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria constatou que 9 entre 10 empresas consultadas (88% do total) tiveram seus negócios afetados pela crise financeira. Quando surgiram os primeiros impactos da crise no País, os empresários manifestaram sua preocupação com a súbita redução da disponibilidade de crédito e com o aumento do custo dos financiamentos. Esses problemas persistem, mas agora não são os que mais preocupam a indústria. O que ela mais teme agora é a redução da demanda.
Mais da metade das indústrias está revendo suas projeções de vendas para 2009 e praticamente todas as que estão agindo desse modo projetam vendas menores. As empresas industriais estão preocupadas também com o aumento do preço dos insumos e equipamentos importados, em razão da alta do dólar, e continuam com dificuldades para obter financiamento, cujo custo as assusta.
Em conseqüência, a grande maioria das empresas que tinham planos de investimentos para o próximo ano (90% do total) reviu seu projetos. Das empresas que reviram seus planos para 2009, 57% cancelaram ou adiaram por tempo indeterminado seus investimentos. Das que não adiaram ou não cancelaram seus planos, 56% reduziram o total a ser investido; só 25% mantiveram seus planos sem alterações.
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, acredita que o resultado final de 2008 seja a criação de 2 milhões de empregos formais. É um resultado viável, pois até outubro o total alcançou 2,15 milhões. Diante da preocupação crescente do empresariado, provocada pela evolução da crise no setor produtivo, porém, parece excessivamente otimista sua previsão de que, em 2009, será criado 1,8 milhão de empregos.