Título: ABI vê arbítrio em ação de Greenhalgh contra Estado
Autor: Assunção, Moacir; Almeida, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/11/2008, Nacional, p. A9

As entidades ligadas aos jornalistas e à defesa da liberdade de expressão reagiram com um misto de indignação e incredulidade à notícia de que o advogado e ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) pediu busca e apreensão na casa do repórter da Sucursal de Brasília do Estado Leonencio Nossa, para recolher documentos sobre a Guerrilha do Araguaia. Todas concordaram em um aspecto: o pedido do advogado é inaceitável e combate frontalmente o princípio do sigilo da fonte, garantido pela Constituição, assim como a liberdade de imprensa. Ontem Greenhalgh emitiu nota para explicar o que pretende com sua iniciativa (leia abaixo).

¿Há um arbítrio muito grande no pedido do advogado¿, reagiu o presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azêdo. Para ele, o advogado está manchando sua biografia de defensor de presos políticos ao fazer tal solicitação à Justiça. ¿O pedido é estranho e contraditório no caso do advogado, que se notabilizou ao defender vítimas da ditadura. Em termos políticos e pessoais, a ABI lamenta que ele tenha tomado essa medida¿, completou o dirigente.

'DESATINO'

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) também criticou duramente a pretensão de Greenhalgh. ¿Esta proposta é um desatino do advogado. Todos os méritos ao jornalista, que cumpriu o seu papel, mas a postura de Greenhalgh é uma ameaça à liberdade de expressão¿, afirmou o presidente da Fenaj, Sérgio Murilo. O dirigente se disse ¿muito preocupado¿ com o pedido do ex-parlamentar, mas acredita na Justiça que, em sua opinião, não permitirá que siga adiante. ¿O advogado deve questionar as autoridades públicas para que revelem detalhes sobre a guerrilha, não um jornalista que investiga o assunto. É estranho o pedido partir de um profissional com o seu currículo¿, disse Murilo, que colocou a Fenaj à disposição do repórter.

Da mesma forma, o presidente do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, Romário Schettino, também condenou a pretensão de Greenhalgh. ¿Temos acompanhado, nos últimos dias, a acertada decisão de um juiz paulista, Ali Mazloum, que proibiu a Polícia Federal (PF) de grampear jornalistas. O pedido do advogado tem matriz semelhante aos que defendiam escutas de repórteres e nos insurgimos contra esse tipo de tentativas de intimidação¿, disse o sindicalista.

De acordo com Schettino, a proposta do advogado, que classificou como ¿inaceitável¿, causou estranheza e preocupação entre os jornalistas brasilienses, colegas de Nossa. ¿Espero que a ação não prospere e que ele (Greenhalgh) se retrate.¿ O ex-deputado é autor de um processo movido, em 1982, em que pede esclarecimentos sobre a guerrilha, ocorrida nos anos 70, no Pará.